Árvores e Design
Você interessado em design. É, você mesmo, que revira os olhinhos por uma linda cadeira ou poltrona com a assinatura de A, B ou C, que critica os hectares de mata atlântica destruídos por fazendeiros ou derrubados por sem-tetos para construir habitações precárias – típicas favelas. Você que não se pergunta de onde vem a madeira empregada pelo renomado design de sua cadeira, mesa, banqueta, você mesmo que às vezes se posiciona contra os rodeios ou as touradas, que às vezes apóia o greenn peace ou outra entidade governamental que abriga animais torturados... Você com profunda consciência ecológica, que pede para empregada não despejar óleo de cozinha no ralo; você que, preocupado com o problema do saco plástico, apóia as sacolas de papel ou as caixas de papelão para solucionar o problema ambiental de milhares de aves. Ou peixes, que morrem por asfixia ou envenenamento ao ingerir pedaços desta tralha maldita. Você, que tem em casa esta poltrona em couro e confortavelmente senta nela para leitura do jornal, para tomar café ou para simplesmente descansar, relaxar depois de um longo dia de trabalho. Você que economiza luz para não ter apagão, que leva à sério a questão indígena, não sabe que se os sem-tetos desmatam para habitar irregularmente, que os vaqueiros maltratam os animais para divertirem-se, são exatamente iguais a você? É, você mesmo. Não? Como não? Você já se perguntou quantas árvores foram mortas para você ter o seu mobiliário? Quando abre o guarda – roupa, encomendado ao fulano de tal, que custou uma cacetada de reais, comprado no ateliê chique do artista, na zona sul, não desconfia que para fazer as portas, as prateleiras, os pés e todo o acabamento, antigas árvores foram mortas? Ou quando vai se sentar na sua poltrona de couro, para desfrutar do descanso merecido, quantos animais foram imolados? Não, isso nunca passou pela sua cabeça.Você nunca tinha reparado nessa questão. Não, você não se sente um bandido, não é? Afinal deve ser madeira daquele tipo de floresta econômica, né? Não, jacarandá, não. Que é isso, né? Não fica bonito assumir que metade de sua casa pode representar alguns metros quadrados de uma floresta, de árvores em extinção. A palavrinha maldita taí: extinção. Quem me mandou falar nela? Quanto me pagam para ter essa consciência ecológica? Estou a serviço de que organização eco-terrorista? Sou um insensível a beleza dos móveis? Não pode haver beleza com sustentabilidade? Ou outros materiais não servirão ao artista para o fim desejado? Então ele não é um artista? Você interessado em design, você mesmo que baba, quando o nome de sérgio rodrigues, joaquim tenreiro ou zanini caldas, entre outros aparecem nos jornais, porque não espia a lista do IBAMA - http://eadmelo.sites.uol.com.br/textos/extin.htm/ http://www.ibama.gov.br/flora/extincao.htm - de árvores em EXTINÇÃO? Vai doer a consciência? Ou nada vai mudar o estilo neo-liberal predador que existe em você? Não vai disfarçar para que seu filho tenha uma boa impressão de você? Não. Não mesmo? Boa impressão é poder e dinheiro no bolso, né? O mundo que se lixe, não é isso?
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