Troca de E-mail's

Bruno Bandido fala:

“Claramente, temos opiniões muito distintas sobre Bukowski, Mariel. Não concordo em absolutamente nada que tu falou a respeito dele. Sin embargo, concordo sobre João Antônio. Acho Malagueta, perus e bacanaço um puta troço bacana. Já quanto a Lima Barreto, apesar de ser um ótimo escritor, jamais acabei de ler um livro dele e pensei "Poxa, do caralho isso daí!". É uma opinião própria, sou um ser humano muito ligado no que me emociona, por isso, minhas opiniões e gostos podem ser babacas e rasos ao ponto de eu gostar de qualquer coisa que me faça roer o coração. Além do mais, não é tanta coisa assim. E minha razão quanto a escrita, é simplesmente porque me ajuda um pouco, ou porque eu preciso, e também porque é uma coisa que eu saiba fazer. E não falo "saiba fazer" com algum ar de experiência ou superioridade, claro que não, você sabe qye não, afinal - falo pelo fato de eu não saber fazer muita coisa além disso. Por isso digo que só me considero escritor quanto tô com o rabo no cadeira escrevendo, ou quando tô com o rabo na cadeira de um bar bebendo e pensando no que vou escrever, fora isso, sou só um cara que não sabe fazer muita coisa. Gosto de brincar, que só escrevo porque não tenho mais nada pra fazer no intervalo das punhetas. Até coloquei isso no meu blog esses dias. É uma brincadeira de péssimo gosto, aliás, raso e babaca - The story of my life. Como posso ter grandes aspirações literárias fazendo esse tipo de brincadeira - que, a bem da verdade, não é tão "brincadeira" assim. Mas, é óbvio, claro que sei que posso melhorar um bocado na minha escrita, que tenho erros craços de prosa, que minha gramática é lastimável e todas essas coisas do tipo. Claro que tento ir melhorando com o tempo, a prática ajuda nisso também, e ler os grandes e beber e pensar e tudo o mais. Também acho que tem gente que não tá interessada nessa metafísica toda e que nem toda literatura precisa ter isso. Assim como penso que o Buck tem sim grandes lances internos no decorrer de sua obra. Mas essas coisas são discussões que não levam lá a muitos lugares. Geralmente discutir gostos em literatura, não leva. Pouca coisa leva mesmo a algum lugar. Acho que é isso. Desculpe-me por todas essas palavras repetidas, às vezes, elas andam comigo.
Grande Abraço”

Mariel fala:

“Porra, cara. Que é isso. Curto o que você escreve. Expus apenas aquilo que me ocorre, entende? Sem mágoas. Espero não ter metido o pé na jaca, mermão. Li no blogue isso a que você se referiu. É uma postura, saca. Isso não impede que troquemos idéias, impede? É que pra mim esse negócio todo é vital. Não quero que ninguém morra, sabe cumé? EScrevo para manter todos vivos, gente que eu amo, curto. Me manter de pé.Agora tô fudido de trabalho, mas vou falando a medida que for desanuviando as coisas por aqui. Ainda amigos? Abraço”

Bruno Bandido fala:

“Ei, brother, não tem mágoa nenhuma. Se tu entendeu isso, não é o que eu quis dizer. Apenas escrevi que discordava em algo e concordava em outras coisas. E escrevi numa boa, sério mesmo. Não fico magoado nem com quem fala mal da minha escrita sem argumento nenhum, talvez, eu chame de idiota ou qualquer merda do tipo, mas imagina com alguém como você, que elogiou ela e apontou defeitos contundentes. porque, como escrevi no último e penúltimo mail foram contundentes, a única coisa que não concordei com você até agora é o Bukowski. E pouca coisa depois de uma dúzia de e-mails. Em nenhum ponto cogitei te atacar nem nada do tipo, foi mal aí se pareceu, pode crer que não. No duro. Foi como tu falou, trocar ideias, apenas isso. Eu já disse que esses mails são bacanas. Abraço!”

Mariel fala:

“legal. sei lá...às vezes acho que isso de ser visceral pega muito para mim, saca? mas me diz aí, a tal postagem está boa mesmo. li ontem, porque não tive tempo antes. pô vou te mandar o livro para você ler. a arte de afinar o silêncio. tem duas coisinhas para acertar na olhadela final, no suspiro para quando ele entrar na gráfica. depois fudeu. como estão as coisas em porto alegre? talvez fim do ano eu pinte aí, conversar com o parceiros, benvenutti, alessandro garcia e você. se estiver a fim, lógico. bebemos algo para comemorar meus talentosos amigos. e, cara, tô escrevendo um projeto sobre o dalton trevisan para uma editora que tá super-a-fim. não vou adiantar qualé porque quero esperar vingar primeiro. mas o que acha? gostaria de participar? e em falar em leituras, sabe que entrei numas de reler jorge amado. as obras de primeira hora dele: cacau, suor e país do carnaval. suor lembra muito o modus operandi da nova literatura e o negócio foi escrito na década de 30. esses três já tombaram na minha leitura. agora a morte e a morte de quincas, descoberta da américa pelos turcos e o retrato de artista quando guri dele - o tal menino grapiúna - são saborosíssimos. fica dica para experimentar. bandido, o negócio é esse. mas estou escrevendo um livro de memórias também. ficcionais, porque não tenho tanto tempo na estrada assim, mas passei por umas paradas que valem um pequeno livreto. vivi em um pequeno lugar onde os homens almoçavam com a arma ao lado do prato de comida. a maioria matadores de aluguel. foi meu primeiro trabalho. e estou escrevendo sobre.”

Bruno Bandido fala:

“opa, mariel. manda o livro, sim! É um nome bacana,"arte de afinar um silêncio".
e vai ser mesmo bacana se tu passar aqui por Porto Alegre pra gente beber uma cerveja e bater um papo. sabe que eu nunca li Jorge Amado... a literatura do colégio conseguiu me afastar desses caras, tenho que ir atrás pra ver qual é. vou experimentar quando me livrar um pouco do meu projeto de conclusão de curso aqui. E esse lance de matadores de aluguel realmente me interessa ler, espero que tu finalize o trabalho. gosto desse universo.
eu tô começando a esboçar alguma novela, ou conto grande, não sei no que vai dar - não consigo explicar direito ainda, é um casal de jovens meio que perdidos e melancólicos, começando a viver de pequenos assaltos pela região metropolitana, tem mais coisa também, mas ainda é só um esboço.
Quanto ao Dalton Trevisan, gosto bastante dos contos dele, foi um dos primeiros escritores brasileiros que me chamou mais atenção, pra dizer a verdade - quando puderes falar mais sobre o projeto, ficarei muito interessado em saber.
no mais é isso. vou seguir com o trabalho pra faculdade.
abração”

Mariel fala:

“sei bem disso. enfiam capitães de areia goela abaixo do sujeito que vai odiar, porque não tem muito com a realidade dele, naquele momento. claro que o cara se preocupa com os meninos de rua, tem consciência social e o cassete mais não é um livro sedutor. mas suor - o nome já diz muito - embutido no livro está tudo o que a gente vê no país: gringos, sexo, pardieiros, gente fudida e alguém com um sonho no meio de tudo isso. minha recomendação é essa. suor - jorge amado. estrutura muito parecida com o que a gente chama de literatura contemporânea. no duro mesmo. a arte de afinar o silêncio tem prefácio de um cara bacana menalton braff. segue logo após esse e-mail. o negócio sobre o dalton tem que ficar entocado até a resposta, mas garanto que você vai curtir. escreve, escreve mesmo sobre o casal que rouba na região metropolitana, mas diferencie o que está escrevendo de um livro de um autor aí de rs chamado paulo scott que enveredou por um barato desses. mocinha que roubava motos. não lembro o nome do livro dele. é bom dar uma olhadela para evitar a mesma pista, sabe cumé, né? acho que o romance se intitula voláteis...”

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O caso Alexandre Soares Silva

Iberê

Duas Palavras