O Restaurante

Para Joseane, que me deu o mote para o continho ligeiro.


Era horário de almoço. Ligou para pedir um dos pratos do cardápio.

Ela estava indecisa. Discou o número telefônico indicado no folheto, a voz do outro lado da linha atendeu:

“Em que posso ajudá-la”.

Emudeceu por não reconhecer a voz da atendente, sempre ligara para pedir a refeição a mesma hora, não variando nunca, de lá aquela voz saía alegre, jovial e feminina, agora substituída por esta, masculina, imparcial e fria.

“Gostaria de pedir um prato, vocês ainda estão entregando?”.

Do outro lado, a voz pigarreou, uma tosse leve interrompeu a resposta. Não encontrando meio para responder, sem trair o sigilo e a discrição, não titubeou:

“Sim, estamos entregando ainda. O que vai querer”.

“Estou entre Frango a passarinha e filé a cavalo”, a mulher, pelo tom,
hesitava.

O atendente tinha visto muitas coisas na vida, mas aquela lhe parecera a mais absurda: porque as pessoas agiam daquele modo para pedir um serviço tão simples? Ele mesmo, quando estava sozinho, precisando de companhia, ligava para as casas conhecidas e se referia diretamente àquilo que queria.

“Então, me mande o filé à cavalo. Refeição número um”.

O telefonista checou o número com os rapazes disponíveis no catálogo. O número um estava em atendimento, já se dirigia para a casa de uma cliente e não demoraria menos que uma hora e meia. “Senhora, a opção desejada não está disponível, por favor, escolha novamente o seu prato”, disse tudo isso se sentindo ridículo. Por que não abriam logo o jogo? Por que ela usava códigos? Filé à cavalo, pensou, qual o tamanho dos documentos desse camarada? E para satisfazer a curiosidade, perguntou:

“O Filé à cavalo atende bem a sua fome?”.

“Sim, é farto. Os ovos quando estão no ponto, chego a chorar de felicidade quando os ponho na boca”.

“Mas, como não tem, me mande o Frango a passarinha”. Passou o endereço. O atendente pediu o número da refeição, ela prontamente forneceu.

Quando mais tarde, ela abriu a porta do escritório, lá estava o Frango a passarinha, flexionando os músculos, pedindo-lhe que apalpasse, verificando se estava no ponto. Ela ria, não sabia bem como reagir, explicou o mal entendido, mas não deixou de anotar na caderneta o telefone do restaurante com cardápio tão insólito quanto curioso.

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