3 Poemas de Henriqueta Lisboa*

Noturno

Meu pensamento em febre
é uma lâmpada acesa
a incendiar a noite.

Meus desejos irrequietos,
à hora em que não há socorro,

dançam livres como libélulas
em redor do fogo.

Publicado: Prisioneira da Noite (1941)



Séquito

Seguir o rei
por toda parte
antes que a coroalhe caia

Publicado: Reverberações (1976)



Expectativa

Neste instante em que espero
uma palavra decisiva,
instante em que de pés e mãos
acorrentada estou,
em que a maré montante de meu ser
se comprime no ouvido à escuta,
em que meu coração em carne viva
se expõe aos olhos dos abutres
num deserto de areia,
— o silêncio é um punhal
que por um fio se pendura
sobre meu ombro esquerdo.
E há uma eternidade
que nenhum vento sopra neste deserto!

(De Prisioneira da Noite, 1941)


*Sobre sua poesia, Drummond nos deixou o seguinte testemunho: “Não haverá, em nosso acervo poético, instantes mais altos do que os atingidos por este tímido e esquivo poeta.” Fonte:http://www.revista.agulha.nom.br/hlisbo00.html#bio

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