Cidadãos de 2ª Classe.
A minha preocupação não está na guerra, porque durante todo tempo em que vivi na Zona Norte do Rio de Janeiro sempre presenciei confrontos onde todos lucravam: sejam os policiais corruptos que levavam armas quanto os traficantes envolvidos, fortalecendo a ideologia neo-liberal que os arregimentou, incitando-os a se dividirem e aumentarem seus rendimentos com incursões que resultam em baixas às vezes de antigos amigos de infância que por uma fatalidade estão posicionados em facções rivais ou são exterminados pelos mesmo policiais corruptos a quem servem para a famosa queima de arquivo, para que o sistema continue sua bárbarie, demonstrando à sociedade - a quem supostamente presta conta - de que tudo está sob controle.
E, nós sabemos que não está.
A classe média, enquanto as balas perdidas atingiam somente os favelados, não se mobilizou cobrando uma atitude das autoridades quando ainda era possível mudar todo o quadro. Quando a violência se democratizou através destas mesmas balas, começaram o surgimento de passeatas pela paz, ações sociais cobrando maior repressão aos ataques genocidas dos bondes que atravessam a madrugadas do Rio de Janeiro. Já era tarde para se podar as asas desses anjos demoníacos, alimentados pela pobreza, pela ganância da classe média, pelo descaso da sociedade civil e por outros fatores, inúteis inumerá-los, quando a situação de sequestro da cidade se presentifica dessa forma.
Mas, quando é declarado de que a cidade está profundamente dividida, entre cidadãos de 1ª e 2ª classe, dividida entre aqueles que devem ter atendidas suas reivindicações e aqueles que devem se resignar por estarem fadados ao segundo plano, sempre preteridos, esquecidos, por pertencerem ao território chamado microrregião, neste momento, a sociedade como um todo deve ficar atenta, porque um modo novo do fascismo se estabelece e condena uma parcela muito grande da população dessa cidade.
A discussão não é apenas sobre a discriminalização das drogas ou a venda de armas ou a parcela suja de um sistema inoperante para aqueles sem nenhuma expressividade econômica; é algo mais aterrador que se arrasta no subsolo social, tramado por uma parcela que ensaiou os passos da ditadura, acostumando-se aquela ginga que resultou nos mortos que as mães reclamam os corpos, naquela noite que dessa vez nada terá da presença dos militares, sendo expressa através desse muro intransponível que a má distribuição de renda já ergueu, que o descaso estatal já pontuou e a classe média ratificou nesse discurso, atribuído a um dos presidentes desse nosso país: "Problema social é problema de polícia".
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