Oração

Antes do sono, fiz minha oração contundente. O paralítico descido do telhado até Jesus Cristo não pode ser apenas a alegoria do atalho do sofrimento para o céu. A enxerga, na qual foi descido, vazia - tal qual a cruz - e o homem restaurado é fundamental para a manutenção da fé.


Um centro de reabilitação infantil é um lugar em que o domingo é destituído de todo sentido, principalmente se você é um dos responsáveis ali presentes. Não ter outro lugar para a própria fé que não o deus para o qual se dirigiu inúmeras súplicas é o nosso paradoxo incômodo.


Sem a intoxicação teológica, inclusive cientificista, a dor produz reflexão: "Quem foi o carrasco que o mutilou no útero?" Ou ainda, afasta a miséria do "aprendizado com o doente" em que o ápice é a nossa morte e o abandono dele à compaixão de parentes. Eis a justiça.


O adolescente sorri, na fisioterapia, para o pai ao meu lado. Começa a ladainha espiritual, cheia de mansuetude, com o equívoco sobre o mártir - ele, o pai, perfeito e não o filho. O relatório da abdicação de uma vida e "Não me importo se ele virar um santo. Quero apenas andar."


De que maneira você crê em Deus? perguntou-me o adolescente. Com muita perplexidade, respondi. Por todas as grandes obras Dele descritas na Bíblia? Não, não. Por todas as outras deixadas por fazer, inclusive algumas sem necessidade de tanto esforço. Você é legal, ele sorriu.

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