Torneamento estilístico

Relia Uma Vida em Segredo, de Autran Dourado, quando, em visita, recebo em casa o leitor X. Ele,que não quer ter revelada a identidade, apesar de frequente em minha timeline, reclamava sobre a perda estilística em muitos autores contemporâneos e,como prova, apresentou-me um romance premiado em afamado concurso nacional, tomou de um trecho, submetendo-o ao meu crivo. Antes, lamentei,porque dois ou três escritores corretos haviam sido revelados, paralisando - me em meu julgamento. Meu amigo X , em minha hesitação, percebeu um afrouxamento crítico - o que é falso quando se me conhece a fundo. Estabelecemos uma conversa comparativa entre o fraseado de Autran Dourado na obra referida - evito o palavreado torneamento estilístico - e o romance premiado. Apontei um dos três autores ganhadores,sem constrangimento, que me impressionara: Sérgio Tavares​. E os outros dois que participavam de minha expectativa pósitiva: André de Leones e Luisa Geisler​. X,surpreso com meus bons exemplos, execrou a comissão julgadora da categoria romance. Emendei que não ligasse importância ao fato,mas ,realmente, o romance, de fatura inferior, não merecia a premiação ou a publicação. X emprestara-me o livro, todo marcado,permitindo -me,após minha leitura, a realização de novas marcas. E acentou-se a minha decepção. Reforcei minhas ambições estilísticas em relação aos três autores que não são os únicos preocupados com o apuro estilístico - mas estão citados porque são frutos do mesmo concurso, exemplos de um tratamento superior da língua que o dispensado pelo romance do qual melhor nem dizer o nome para não lhe dar publicidade. Os parâmetros de leitura, desvirtuados, afastam-se dos bons escritores nacionais. Muitos preferem a leitura de autores estrangeiros, sem relação alguma com a tradição em que adentra, do que a leitura dos clássicos de nosso idioma. Creio, fortemente, que os três autores não passaram por Machado de Assis, Graciliano Ramos ou Raquel de Queiroz sem impressão. O autor do romance ruim deve ter mal compreendido o que leu dos livros estrangeiros, guardando para si o epidérmico e o folclórico que neles pululam.

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