3 Diálogos Sobre Futebol com Milton Neves


Caro Milton Neves,

  PH Ganso parece ter reencontrado o bom futebol.

 Parece que com o estímulo correto o meio-campista pode voltar a sua melhor forma. E desta maneira estar novamente na mira dos selecionáveis para vestir a amarelinha. De fato, no jogo contra o Atlético/MG sua atuação justificou o investimento são-paulino.

   O Atlético/MG mostrou-se um time quase irrepreensível. Cuca, através da atuação de sua equipe, afirma a que veio nesse campeonato. E não será surpresa se for o vencedor das Libertadores. A vitória do futebol atleticano será pedagógica para o nosso futebol em que a imaginação anda emperrada nas engrenagens dos resultados.

    Os quatro maiores técnicos da atualidade: Tite, Cuca, Muricy e Oswaldo demonstram que é possível aliar bom desempenho e resultados.

       Cuca parece ter se libertado do "efeito" que o prendia. Os resultados inegáveis de sua equipe provam de uma vez por todas que agora ele não será parado por superstições ou pela descrença em si mesmo que o abalava, não se sabe o porquê, em suas partidas decisivas, murchando o ritmo empreendido até ali com a equipe que comandava.

Uma espécie de autossabotagem interior de que nem mesmo ele se dava conta, diagnosticada muito bem por Nelson Rodrigues, quando ele falava de determinada síndrome alvinegra - repleta de dramaticidade para ambos: tanto o torcedor quanto o técnico.

      Portanto, chega de nadar e morrer na beira da praia.

Agora é para valer. E o Atlético/MG com suas qualidades defensivas e ofensivas se sagrará campeão da Libertadores, livrando-nos de nosso complexo provinciano de que não temos mais o futebol de antigamente. Saldanhas, Feolas e os bons Zagallos - aquele que botou alguns canhotos para jogarem juntos em certa seleção - estão por aí esbanjando criatividade tática e técnica.

      Se eu iniciei meu comentário elogiando PH Ganso e o alçando ao grupo de jogadores selecionáveis para a amarelinha, terminarei desejando que Cuca tenha sucesso em sua feliz campanha pela vitória na Libertadores.

Porque a vitória de Cuca não é apenas a vitória do Atlético/MG, dos dirigentes do clube que apóiam o treinador e os jogadores e nem apenas do estado de Minas Gerais. A vitória do futebol atleticano será a de uma nova mentalidade para o futebol tacanho apresentado em muitas equipes nacionais e, por vezes, exibido até mesmo na seleção brasileira.

Um futebol com arte, empenho e compromisso com a vitória e com o resultado. Um futebol jogado com alegria, provocação e certo humor.

    Na transmissão do jogo contra o São Paulo percebi isso. Não é um humor ofensivo contra o adversário, mas, certa irreverência consigo mesmo e com os próprios problemas. Encarnados nas exigências dos jogadores como Donizete, Bernard e Ronaldinho Gaúcho.

       A vitória de técnicos como Cuca, Tite e Muricy em torneios como a Libertadores obrigam a todos a repensarem o modo como vêem o futebol: desde os dirigentes aos jogadores em todos os níveis.

     É vitória da beleza, conseguida com esforço, mas da beleza. E da profunda alegria por ver uma exibição que faria sorrir craques como Tostão, Rivelino e Gerson, que faria Pagão e Coutinho se abraçarem e Sócrates, com um sorriso de canto de boca, estendendo a mão para Zico, chorarem por ver as coisas entrarem nos trilhos.

    Evoé, Pelé!
    Evoé, Didi!
    Evoé, Garrincha!

    Evoé, Cuca!
 

 

Caro Milton Neves,

A equipe atleticana comanda por Cuca deverá papar o campeonato.
Será triste ver um time que está jogando tão bonito morrer na praia. Mas se há justiça no mundo, desta vez, o Galo deve levar a taça.
E se isso não acontecer, torcedor atleticano ponha de lado a fé e deixe morrer à míngua a divindade que atentar contra o propósito da vitória. Pratique um jejum de orações, caso Cuca, o segundo melhor técnico brasileiro em atividade, não seja agraciado.
Matematicamente é inviável a derrota.
 Entretanto, o futebol contraria as leis da natureza, possui suas próprias regras e uma entidade caprichosa o rege. Portanto, é cedo para qualquer comemoração.
O São Paulo errou na contratação de Lúcio.
O excelente zagueiro em gramados europeus aqui se tornou uma versão de lutador de UFC. Estourado, estouvado e inseguro parece um novato e não o veterano com o currículo que tem.
Ganso, apesar de um passe ou outro, eclipsado não ajudou ao seu time.
É difícil a condenação de um jogador, sobretudo quando tão jovem, mas a carreira de PH Ganso estará fadada às contusões e as pequenas aparições em campo como se o meia – um jogador minimalista – sofresse, na própria vida, o reducionismo de suas jogadas, reduzindo-o a um mero espectador de si mesmo, daquilo que já realizou de melhor?
Vez por outra Ronaldinho Gaúcho assume esse papel. Apático, não se parece em nada com aquele Ronaldinho dos tempos da Europa e nem mesmo lampejos resgatam-no de si mesmo.
No entanto, a sua transferência para o futebol mineiro recuperou-lhe o brilho.
E sua atuação, se não foi inesquecível como naquele clássico Flamengo e Santos, não pode ser desprezada. Atento, maduro observou muito bem as jogadas e soube aproveitá-las culminando com o gol – a coroação de seu esforço para se manter na mira da Seleção Brasileira.
Quanto ao Galo ser o melhor time do continente, deixo isso por conta do torcedor que há em cada um; e que, pela paixão com que torce, não vai estar nunca livre do exagero.
No entanto, o time de Cuca não deixa de ser uma bela equipe.


Caro Milton Neves,


Os dirigentes do Barcelona deveriam ter desconfiado quando Pepe Guardiola jogou a toalha, pedindo para se desligar do clube catalão.

O técnico Guadiola, em uma antevisão, soube o que agora nós estamos deslumbrando: seus inimigos haviam descoberto todas as suas nuanças táticas. Era hora então de retirar o time de campo, de uma vez, se não quisesse pôr em cheque as tantas vitórias amealhadas com o fantástico time de Messi, Xavi e Iniesta.


Guardiola saiu para reinventar-se. O Barça, sem nenhum aviso, não atualizou o esquema tático. E o resultado são as derrotas humilhantes que o time de Daniel Alves vem sofrendo do Bayern de Munique. Messi, Xavi e Iniesta são bons jogadores. Quanto a isso não há dúvida. Mas como reinventar a si mesmo sem prescindir das características que tornaram o time catalão famoso?

A resposta deverá vir dos dirigentes do clube onde Messi atua.

E Neymar não adiantará muito.

Será um reforço positivo, enquanto artefato psicológico. Mas se os adversários consultarem os vídeos - principalmente os referentes à seleção brasileira - de atuação do menino da Vila logo irão se desembaraçar do possível medo. E a lição que impuseram ao queridinho de Maradona; logo aplicarão ao queridinho de Pelé.

As outras equipes européias logo desbancarão tanto o Barcelona quanto o Real Madrid – ambos sofrem de defasagem tática. A reserva técnica é inquestionável. Lá estão os melhores jogadores enfileirados.


A questão tática é o ponto. E os técnicos alemães, tão adorados pelo atual técnico da seleção brasileira, estão alertas contra os esquematismos. E não apenas isso: estão dispostos a desmontá-los. Leão, em determinada ocasião, já havia dito que o Barcelona estava apenas em uma maré de sorte. Sanchez, que foi dirigente do time do Corinthians, afirmou algo parecido. E foram esnobados. O que se provou um erro.


Luiz Felipe Scolari, depois da lição de futebol dos alemães aplicada aos jogadores catalães, deveria se redimir de apresentar um futebol de colegial tanto tática quanto tecnicamente.

Tite foi o único técnico a desbancar esquematismos ultimamente: quando venceu o Chelsea - chegou o ápice disso – que também aprendeu com a derrota. E o técnico corintiano deveria estar no comando da seleção brasileira.

Neymar será apenas um comprimido de efeito placebo para o futebol catalão. O que pode ser desastroso.


Como reza o dito popular será como matar dois coelhos com uma única cajadada: a ineficiência de Messi e a nulidade de Neymar frente aos adversários alertas aos seus truques.

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