Paraty : Caro e Lotado.


Minha intenção era lançar em Paraty meu livro de poemas: Cosmorama. Como salientei, era. Não que minha desistência seja irremediável, mas se eu encontrar uma boa alma que me abrigue durante as duas noites que passar na cidade será uma vantagem e uma alegria. Enquanto isso não sair do campo da especulação, talvez meu plano fique frustrado por conta da superlotação e dos preços cobrados pelas pousadas e hospedarias.

A Festa Literária Internacional de Paraty goza de prestígio. Isso é inegável. Para lá todos os olhares se voltam quando anunciam o organizador e os nomes que participarão das mesas, os ingressos para as tendas vendidos a preço de ouro se esgotam instantaneamente e as reservas – como pude constatar – quando termina o evento do ano anterior, já são feitas com antecipação, pagos os cinqüenta por cento para isto.

Desta forma, se tornou um negócio rentável para todos. Como participei de algumas edições da FLIP, posso asseverar que ainda era acessível a cidade para o desavisado que por lá aparecesse com mala e cuia para partilhar do calor e da boa conversa dos integrantes da Festa, tomando lugar no círculo da fogueira, dividindo suas experiências e histórias com os demais. Demoraria um pouco a peregrinação pelas pousadas do centro histórico, mas você acabaria por conseguir alguma para passar a noite, por uma diária justa.

Justamente foi essa palavra que desapareceu do dicionário de Paraty: DIÁRIA. Quando neste ano, resolvi ligar para arrumar um lugar para que o corpo pudesse repousar sem grandes incômodos da deambulação pela cidade, descobri que todos, absolutamente todos os hotéis, pousadas, hospedarias e buracos somente vendiam pacotes dos cinco dias. Isto sendo uma regra sagrada que deveria ser obedecida por todos os comerciantes de dormitórios – sejam os luxuosos ou os mais simples.

Liguei para Paraty Tour para me informar se isto era uma verdade. Era. Lugar com diária somente a 10 quilômetros de distância da cidade, em Ilha Grande. Não desgrudei do telefone. No Jabaquara, a mesma situação. Na Pousada em que fiquei lá da última vez com minha esposa, professavam a mesma ideologia. Somente os cinco dias, em apartamento estandarte, com regalias de marajá. Expliquei a minha intenção de passar somente duas noites e o exagero da oferta. Não, não consegui negociar. Era isso ou nada. Preço módico de R$ 2.000,00. Desisti.

Em outra pousada, próxima da rodoviária da cidade, indicada por esta última como o possível refúgio da palavra DIÁRIA, encontro uma receptiva senhora que me atende com todos os bons modos e delicadezas, anota meu telefone e me promete ligar dentro de uma hora para conversarmos a respeito da suposta diária a ser paga pelas duas noites de hospedagem. A ligação começa tímida, a proprietária da pousada me explica que nessa época do ano – referindo-se a FLIP – ninguém na cidade trabalha com diária e sim com pacote. Tento convencê-la do absurdo, mas ela retoma a ladainha. Quando se decide me ajudar, me cobrando metade do valor do tal pacote. O pacote custava R$ 1.000,00, ela em um gesto de benevolência me faria pela metade.

Disso que isso estava fora de cogitação. Ofereci R$ 150,00 por cada diária. O que no final daria R$ 300,00. Ficaríamos eu e minha esposa. A proprietária resolveu abrir o jogo: era um acordo dos comerciantes locais. Gostaria muito de me ajudar, aquiescendo que o valor era justo – o de R$ 150, 00, mas não poderia me ajudar com medo de ser retaliada caso a informação de que me faria esse “favor” vazasse. Compreendi a situação da pobre senhora, me resignando e abandonando a idéia.

Em outra pousada isto chegou ao cúmulo. A proposta de que pagasse os cinco dias – que eu não usaria. E o restante ficaria como crédito para que fossem usados em um fim de semana ou feriado prolongado caso eu voltasse à cidade.


Agora me decidi fazer a viagem sozinho.Talvez eu leve um cobertor e durma na rodoviária. Como essa política bem exige.

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