Meu Pai

a Wilson Scanzi Simon

Desembaraço meu corpo
Das tuas linhas; mínima figura
Surgida do teu ombro. Meus braços
Acenam com assombro
Quando ultrapassas a cozinha.

Teu cheiro de coisa marinha
Entranhado na minha blusa,
Animal de urgências simples
Acende com os olhos o cotidiano.

No chão, nossas sombras
De diferentes estaturas, misturam
O presente e o passado. O teu corpo
Minha bússola acorda o sol cansado.

Estendidos sobre a linha da areia
Revolvendo com os dedos o crepúsculo,
Sob a lassidão do teu músculo repousa
Minha breve fantasia:

Corre louca a sua voz no tempo
Algaravia de pássaros em romaria
Sobre o telhado de nossa casa
Que o tempo consumia

Desembaraço meu corpo
Das tuas linhas, sem notar
Que em meu avanço tua presença
Se esvaía: quando no teu ombro
Ultrapassávamos o pórtico da cozinha
E me confessavas as lembranças
De intimas paisagens marinhas.

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