Zonas de Exclusão: Outros Subúrbios.
Participei deste evento na mesa Fim da Fronteira: Propostas para um Subúrbio além do Subúrbio. O acaso me ajudou bastante, porque dois dos convidados para participarem faltaram. Então, o evento promovido pela revista e editora Confraria do Vento, mediado por Victor Paes, me retirou do banco de reservas e lá estávamos tratando do assunto com os demais convidados, entre estes : Paulo Roberto Tonani do Patrocínio, Julio Ludemir , Berimba de Jesus e eu mesmo.
O evento aconteceu na Biblioteca Pública do Irajá, contando com mais uma mesa, intitulada A Cidade Invisível : O Subúrbio Fora dos Determinismos. Nesta mesa estavam os escritores Marcelo Moutinho, Paulo Scott, Paulo Lins e Fernando Molica. A mediação ficou por conta do pesquisador Clóvis Bulcão. As discussões provocadoras e os debatedores provocativos dividiram com o público sua concepção desta divisão, deste corte integrado tanto à nossa geografia quanto à nossa concepção política sobre os dois lados desta cidade: além túnel e aquém túnel.
A minha participação poderá ter ficado uma tanto prejudicada pela minha má vontade em encampar algumas idéias dos exploradores da temática mundo cão. Dividindo a literatura em literatura de periferia, literatura negra, forçando a divisão de gêneros como se isso fosse uma marca que delimitasse o bom do mau texto. Só existe a literatura do “L” maiúsculo, caso o escritor seja este qual for: negro, bicho, rapper, branco, rico, remediado ou extremamente pobre – não realizar em seus textos efeitos estéticos que possam acolhê-lo entre os nossos melhores ficcionistas, lamento, mas a rotulação não garantirá seu lugar daqui a um zilhão de anos.
Isto é algo que me incomoda. E acentua uma divisão da cultura: para o favelado só poderá existir o rap? Para o branquinho mauricinho só poderá existir Shakespeare? Não concordo que se ergam também muralhas culturais. O menino favelado antes de ser cooptado pela cultura da periferia, deveria ser apresentado a imensa gama de outros produtos para assim escolher o que quer fazer consigo mesmo.
Dei porrada no Central da Periferia.Porque a apresentadora acha demais isto, enquanto que seus filhos provavelmente estudarão no Santo Inácio e terão aquele “neguinho” batucador de pandeiro como o futuro motorista da família, isto em uma visão extremamente otimista. Isto se o destino permitir... caso contrário não passem pela Linha Vermelha.
Joãozinho Trinta estava correto. Pobre gosta de luxo e rico de miséria. Na mesa de que participei todas achavam a pobreza fascinante. Defendiam a favela como lugar do provisório, com soluções engenhosas e todas as sete maravilhas do mundo ocidental. Por que não criam seus filhos lá? Entre o bang – bang habitual de policiais e bandidos? Não, é somente o interesse pelo estrangeiro, uma questão antropológica, morar naquele lugar nem pensar. Melhor mesmo explorá-lo como outro objeto do mundo de consumo e vendê-lo, ainda que com algumas verdades para a classe média que fará sua mea culpa diante de si mesmo através de programas assistencialistas. Deste modo, eles, os neguinhos, destes, muito parecidos comigo, podem até virar ladrões, mas aliviarão o tio quando ele encostar o carrão no sinal. Afinal, ele foi o sangue bom que um dia....O mesmo lero – lero.
Minha fala foi contra essa glamourização que não leva em conta aquela parcela que não concorda que tudo lá seja um paraíso, porque nada chega para aquela gente, o poder público tenta implantar sistemas civilizatórios nesses territórios de barbárie, mesmo que de maneira equivocada, o Estado procura achar uma maneira de negociar essa cisão. O que não dá é para conservar aquelas pessoas como os indígenas, sem integrá-los ao pavilhão nacional, sem fazer com que a cidadania se aproxime de cada uma delas, mesmo que para uma namorico tímido de portão.
É um sistema puro, dirão daqui a pouco outros. E as guerras entre facções, dirão guerras tribais. Poderemos estudá-los com mais vagar, defenderá a menina de antropologia. Os colegas da sociologia emendarão: mesmo que depois de extintos.
Comentários
Já vi esta senhora, Regina Casé entrando num restaurante bem chique em Copacabana, até aí nada demais, mas era curiosos vê-la na TV enaltecendo, digamos assim, os pobres pobres da periferia. Odiosa este tipo de "produto" para periferia.
Não sei se já te falaram, mas seu texto está cada vez mais cômico. Por favor, nada do tipo Zorra total e sim um humor de doer gengivas, de causar convulsões e acabando numa reflexão.
Continue atualizando, por favor.
Um de seus leitores, Diego(pai do Igor)