Sobre o Livro Ensaios Radioativos

Ensaios Radioativos
Marcio-André
Ed. Confraria do Vento
R$ 20,00
Ensaios Radioativos é um romance descontínuo. Coabitam neste livro angústias de um poeta que encarna o mundo e suas titubeações, limitando-se a indagar-se e a inquiri-lo sobre o lugar do homem sobre a Terra, isto é, se este se pode ver claramente nas frestas abertas por contaminações sofridas por estar em meio ao processo de avanço tanto tecnológico quanto emocional.

A poética dos espaços se traduz eximiamente quando Marcio-André se esforça para convencer-nos de que a loja de discos está e não está ali – dependendo simultaneamente de ambos os olhares – isto quer dizer, evidenciando de que todas as coisas estão a se espiar continuamente. Investigam sua natureza oscilante para encontrarem sua parte permanente ou eminente caso não consigam fixar-se sobre si mesmas o olhar andarilho e sem escolha.

A visita a Cidade Fantasma em Chernobyl é uma estrada percorrida e vazada por este traço, um hiato em que o homem se reprocessa diante técnica, esvaziada naquele acidente, ali onde o insulto da perfeição e da segurança esbarrou com o caos contido naquela esfera de Acaso que somente o poeta pode enxergar. Tudo isso perpassado por uma poética da afetividade, porque não se amam as coisas mortas? Deste modo (re) leio Ensaios Radioativos.

O diálogo silencioso que os textos guardam entre si, adensados nos diálogos das entrevistas, contribuem para uma outra espécie de jogo do conhecimento. Confirmam os (des) caminhos desse pensamento da perplexidade, é um romance descontínuo por intercambiar este sentimento, compartilhá-lo com o leitor. Então, pode ser lido como ficção, porque nada daquilo poderá estar de fato ocorrendo. Sendo neste instante, esta percepção, a armadilha do sensorial.

Contaminados prosseguimos a leitura, de uma prosa límpida como a de Cioran, repleta de abismos e espantos, conduzidos pelo alquimista Marcio-André através deste desconhecido tão íntimo das menores coisas que se vistas de perto não possuem nada de normal, calando em si mesmas o potencial do extraordinário.

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