Texto Antigo...

(Trecho)

As altas copas verdes das árvores substituídas por postes enormes que entortam a cabeça para dentro da minha janela. É a primeira diferença notada quando mudo de espaço, monto o escritório e arrumo os livros. A rua sempre barulhenta, vozes e buzinas confundidas, ambos estridentes, apregoam o dia nascendo rápido atrás do morro, dividindo a manhã em fatias comidas depressa nos bares – a média dos trabalhadores. A luz lenta infiltra-se pelo vidro canelado e desabrocha sobre o espelho uma flor de finíssimas pétalas, estalando sobre o corredor seu imenso caule transparente, inapelavelmente fugidio, quase uma flor de vapor, intocável, inamovível de sua brotação. Interrompo com meu corpo o tropismo, a flor agoniza, como se rasgassem-na. Os postes, cabeças pendentes, apagam-se com um fechar de pálpebras lento, percebe-se a pouca luz abandonando suas pupilas, imersos nas trevas adormecem para acordarem somente à noite como vampiros que se estendessem nas sombras dos notívagos.

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