Minha Mãe
Minha mãe é negra. Piche, boneca de piche, isso é que ela é, destrambelhava minha avó paterna. Meu pai prestava serviço militar quando a conheceu, sem a menor cerimônia convidou para conversa; minha mãe encantada pelo aspecto do rapagão não dispensou olhares aos outros candidatos que eram do Salão do Reino, seita a que pertencia à maioria de seus familiares, inclusive meu avô sendo um manda chuva lá dentro, ápodo: ancião.
Os encontros – a escapada como a mãe de minha mãe classificava as reuniões clandestinas dos dois – eram freqüentes. Não demorou a carga ser municiada pelo meu avô materno que raposa velha, sentia que a filha não afinaria se apertada, sendo pressionada para largar o latagão.
Meu pai suava a camisa com as corridas que tomava dos irmãos de minha mãe. Toda vez ele fugia do confronto direto, por mais que tenha sido pugilista no regimento, com algumas medalhas e distinguido à época como um homem hábil com os punhos, mesmo sendo peso – mosca. E lá estava meu pai correndo, quem o identificasse, pensaria que teria optado por outra modalidade de esporte: o atletismo. Não se via o Simon fazendo outra coisa, sempre a correr, reclamava Alberico, português dono de venda, espiando aquele atropelo todo.
Minha mãe vencia meu avô pelo cansaço. As sovas eram constantes, não se poderia admitir a prevaricação de filha de um ancião, o que é isso, que se desse ao respeito. O cajado descia pesado, marcando a carne que suspirava outro encontro, porque enamorada do perigo, arriscava com isso a própria segurança.
Judeu. Isso mesmo, pai. Ele é judeu. Filho de judeu. Meu avô teve alguma esperança de conversa amigável, não se desfez da birra no ato, mas aguardou para ver, certificar-se com os próprios olhos de que se tratava de gente decente. Isso ajudou a diminuir as perseguições. Quando os meus tios apareciam, meu pai não corria mais o cem metros rasos, ad infinitum.
Então as coisas foram se acertando, se acertando, até que se marcou o casamento, enfático, meu avô materno disse, no civil, somente no civil. Meu avô temia confusão. Estava certo, mas a sua própria maneira. Porque minha avó paterna deitava fogo pelas ventas.
Os encontros – a escapada como a mãe de minha mãe classificava as reuniões clandestinas dos dois – eram freqüentes. Não demorou a carga ser municiada pelo meu avô materno que raposa velha, sentia que a filha não afinaria se apertada, sendo pressionada para largar o latagão.
Meu pai suava a camisa com as corridas que tomava dos irmãos de minha mãe. Toda vez ele fugia do confronto direto, por mais que tenha sido pugilista no regimento, com algumas medalhas e distinguido à época como um homem hábil com os punhos, mesmo sendo peso – mosca. E lá estava meu pai correndo, quem o identificasse, pensaria que teria optado por outra modalidade de esporte: o atletismo. Não se via o Simon fazendo outra coisa, sempre a correr, reclamava Alberico, português dono de venda, espiando aquele atropelo todo.
Minha mãe vencia meu avô pelo cansaço. As sovas eram constantes, não se poderia admitir a prevaricação de filha de um ancião, o que é isso, que se desse ao respeito. O cajado descia pesado, marcando a carne que suspirava outro encontro, porque enamorada do perigo, arriscava com isso a própria segurança.
Judeu. Isso mesmo, pai. Ele é judeu. Filho de judeu. Meu avô teve alguma esperança de conversa amigável, não se desfez da birra no ato, mas aguardou para ver, certificar-se com os próprios olhos de que se tratava de gente decente. Isso ajudou a diminuir as perseguições. Quando os meus tios apareciam, meu pai não corria mais o cem metros rasos, ad infinitum.
Então as coisas foram se acertando, se acertando, até que se marcou o casamento, enfático, meu avô materno disse, no civil, somente no civil. Meu avô temia confusão. Estava certo, mas a sua própria maneira. Porque minha avó paterna deitava fogo pelas ventas.
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