Arrastões no Rio de Janeiro

Marilena Chauí num vídeo em que acusa o ex-presidente de roubo do personagem histórico da revolução — o operário — com a promoção de uma parcela da população à classe média, produz um diagnóstico sobre a Era Lula, apontando a neutralização dos vetores da transformação social radical pretendida pelo socialismo. À época, o ex-presidente, espectador da fala de Chauí, não parecia contrariado com a intervenção da filósofa, mas divertido. E alguns apontaram como histérica sua reação com a neutralização do potencial revolucionário representado pela pobreza e pelo operariado.

Em recente convite para uma palestra sobre a onda de novos arrastões no Rio de Janeiro, me pediram uma ementa para análise, sujeitando meu ponto de vista à contratação do evento sobre os arrastões. Frisei,na documentação, que o prisma criminal pouco me interessava, desprezando o classismo e a tática do encarceramento como política social e o classismo advindo dessa postura. E menos ainda a ressurreição da onda negra, medo branco como se nesse binômio repousasse toda nossa mazela.

Descrevi, objetivamente, minha teoria, baseado em Marilena Chauí, que as massas de desordeiros acorridas à Zona Sul, recusando a identidade consumista imposta nos últimos doze anos de governo trabalhista, descobre perplexa que tiveram o acesso aos bens de consumo, em sua maior parte aos semiduráveis, sem uma real reestruturação das relações sociais e do regramento do espaço público, portanto sem uma alteração significativa relacional no modus operandi social. E revoltados com a traição operada, os grupos desejavam a ressignificação de sua identidade, com a reedição de uma falsa polaridade. Enfatizei que os planos de inserção governamental visavam a garantia da domesticação da revolta.


A minha peça teórica, longe da incriminação policial, investigava uma razão sociológica – quer tenha sido ela despertada por partidos opositores ao governo ou por quaisquer outras organizações políticas – , que desembocaria na movimentação das massas insatisfeitas com o papel escolhido para elas, e não por elas, para ser desempenhado. Além do reforço das políticas de segurança pública do Estado e do cordão sanitário como política pública

Resultado: a mesa diretora rejeitou minha proposição.

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