A separação tem vilão
As
separações têm responsáveis. É uma ingenuidade afirmar de que
não existe um culpado. Na maioria das vezes, ele se infiltra, sem a
percepção dos envolvidos, instala-se na relação e a contamina
lentamente até destruí-la. E reerguê-la parecerá impossível aos
envolvidos. A indiferença é a sua forma mais perceptível, embora
exista a dificuldade em reconhecê-la.
O
exame exterior julga que há felicidade quando na verdade o que
existe é sofrimento. E a fonte de sofrimento é variável de relação
para relação. A minha fixação, em um relacionamento, é física.
E isto não quer dizer uma ambição de envolvimento com uma
fisiculturista. A minha obsessão é traduzida através do desejo de
vestir o Outro. E a única maneira – mesmo que
temporária
– de
concretizá-la é o sexo. A minha afirmação parece a indicação de
um valor central em torno do assunto –
outra
conclusão falsa.
Em
um relacionamento longo, o sexo e a corporalidade costumam sofrer
substituições desvantajosas –
quando
não são
suprimidas de vez. E o pior que pode ocorrer não são as
substituições ou a supressão, porque se a primeira possui um
caráter ambíguo que pode gerar a interpretação da possibilidade
de
escassez;
a segunda é a negação da ambiguidade, porém em ambas existe um
desconforto ou uma idealização excessiva paralisante que podem ser
rompidas com a lucidez dos envolvidos que se julgam em prejuízo.
O
pior que pode ocorrer é o meio-termo entre as alternativas apontadas
em que não é possível descobrir do que se trata a ação porque
ela está camuflada em termos mais ou menos normais –
ritmo
de vida profissional, cansaço, cobrança –
que
podem constranger uma avaliação correta por suscitar naquele que
julga a suposta acusação de egoísmo sempre insuportável pelo medo
da prática de uma injustiça.
Portanto,
as separações têm responsáveis. O ditado da raposa no galinheiro
não é descabido. Às vezes o animal não está lá para devorá-las,
mas quer estar ali travestido mesmo sem bico ou penas; quer desfrutar
das comodidades sem a obrigação do ovo.
Às
vezes, as negociações, com todas as interferências, possuem
sucesso na busca de um denominador; em outras, parece que o impasse
não quer ser resolvido, tornando-se
a tônica do processo em que o
casal está
envolvido, como se a resolução dele implicasse em uma condenação
a infelicidade eterna. O que nunca é verdade – nem para um lado e
nem para o outro.
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