Um traço, dois passos

O poder pedagógico da alta literatura é nulo. A pretensão de penetrá-lo para lhe reconhecer os mistérios quase sempre resulta em decepção, embora constitua um exercício curioso. Como fazer versos,de Maiakovsky ou Filosofia da Composição, de Edgar Allan Poe não deixam de ser documentos interessantes para análise da personalidade de seus autores,mas,creio,nem eles mesmos, seguindo à risca o prescrito,seriam capazes de produzir um poema ou um conto segundo as próprias teorias. Não se espante portanto se lhe afirmo que a má literatura têm socorrido mais os escritores do que a boa literatura. Nela os elementos da composição podem ser enxergados,porque incapazes de se articularem conjuntamente, permitem ver as rachaduras nas paredes e,com isso,detectar o processo de erosão. Destarte, a boa literatura é um bloco maciço sobre o qual deslizamos as mãos em busca de emendas para a compreensão de sua formação, inutilmente. As emendas não existem. Autran Dourado,em seu manual sobre estilo, parece advertir do ridículo de anões imitarem gigantes, sem a preocupação de ocultarem as pernas de pau.

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