Dias de Faulkner e a Crise do Discurso
O aspecto rasteiro deste livro é o seguinte: a visita de um escritor, detentor de um Prêmio Nobel de Literatura a um país de terceiro mundo durante a década de 60 na cidade de São Paulo. Contudo, sinto informá-los de que o livro não trata de maneira alguma disto, portanto para espanto de todos os leitores, penalizados por terem adivinhado a pequena essência do livro – resolvo mostrá-lo como um problema narrativo devido a fatores de enumerarei cuidadosamente. O livro Dias de Faulkner é uma armadilha e o leitor desavisado é apanhado por ela sem mesmo se dar conta.
A leitura é surpreendentemente fluida. O texto bem cuidado, enxuto, sem a vacilação que se pressente na estréia de jovens autores - isto está banido de suas páginas, porque é com segurança com que o narrador conduz sua – aí começa o problema – história ou estória como Guimarães Rosa preferia chamar suas peças de ficção? O vocábulo não importa muito, porque nele é que mora a crise do livro, intensificada pela profissão do autor – historiador – aumentando a tensão nessa fronteira tão tênue e de difícil delimitação. Antônio Dutra põe em cheque a verdade histórica ao narrar suas versões para a estadia do autor de Som e Fúria em sua passagem pelo Brasil.
Este é o primeiro fator, estamos diante na primeira parte do livro de uma cena histórica, o desembarque de Faulkner nas terras paulistas, abusando do solipsismo e sendo cínico ao deter o olhar sobre o fato, poderíamos supor que é um logro a sua chegada, construída pelo fluxo de pensamento da personagem incomodada com o papel que desempenha sempre prestes a renunciar nas entrevistas a carga identitária – a de ser um escritor – colocando em seu lugar o de fazendeiro, recusando a sofisticação trazida pela denominação, desdenhando toda a distinção nascida daí para se posicionar apenas como um homem simples, destituído de interesse, uma personalidade apagada que só quer atingir a simplicidade dos instantes do alvorecer em sua propriedade sem as complicações desse outro universo.
A verdade é muitas vezes uma projeção interior de determinada suposição que o artista desejaria que fosse mentirosa. Eis o segundo fator. É o que enxergamos no indigitado Faulkner, um homem subtraído de si mesmo, em suas ausências alcoólicas onde trafega seu olhar pela inútil paisagem sempre confundida com Chigago como o escritor se confunde com seus espectros deixados aos interlocutores ao longo da semana através de encontros, entrevistas, jantares e alguma reflexão sobre a serventia de tudo aquilo, porque supõe que nada tem a declarar sobre si mesmo ou sobre a obra que escreveu. Como pouco lhe interessa o que pensam sobre tudo isto os quase selvagens das terras tupiniquins.
Embora a letargia intelectual tenha facultado a Faulkner o esquivar-se de seu desdobramento interior, ele acerta em cheio quando destaca o problema do homem negro por essas paragens. É um trópico melancólico esse repleto de más lembranças a chicotearem a elite que as vezes é também parte da Casa Grande e se sente desprestigiada quando lhe apontam o dedo, intimando culpa.
A narrativa tem humor. Não no sentido estrito, histriônico. A passagem em que visita o Butantã é algo hilária, discreta sobre o riso que se quer dar. Mas a pergunta é estamos rindo com ele, dele ou ele está caçoando de nós? Antônio Dutra arquitetou sua narrativa como um grande autor deve fazer – armou o circo e está de longe vendo a lona pegar fogo.
A leitura é surpreendentemente fluida. O texto bem cuidado, enxuto, sem a vacilação que se pressente na estréia de jovens autores - isto está banido de suas páginas, porque é com segurança com que o narrador conduz sua – aí começa o problema – história ou estória como Guimarães Rosa preferia chamar suas peças de ficção? O vocábulo não importa muito, porque nele é que mora a crise do livro, intensificada pela profissão do autor – historiador – aumentando a tensão nessa fronteira tão tênue e de difícil delimitação. Antônio Dutra põe em cheque a verdade histórica ao narrar suas versões para a estadia do autor de Som e Fúria em sua passagem pelo Brasil.
Este é o primeiro fator, estamos diante na primeira parte do livro de uma cena histórica, o desembarque de Faulkner nas terras paulistas, abusando do solipsismo e sendo cínico ao deter o olhar sobre o fato, poderíamos supor que é um logro a sua chegada, construída pelo fluxo de pensamento da personagem incomodada com o papel que desempenha sempre prestes a renunciar nas entrevistas a carga identitária – a de ser um escritor – colocando em seu lugar o de fazendeiro, recusando a sofisticação trazida pela denominação, desdenhando toda a distinção nascida daí para se posicionar apenas como um homem simples, destituído de interesse, uma personalidade apagada que só quer atingir a simplicidade dos instantes do alvorecer em sua propriedade sem as complicações desse outro universo.
A verdade é muitas vezes uma projeção interior de determinada suposição que o artista desejaria que fosse mentirosa. Eis o segundo fator. É o que enxergamos no indigitado Faulkner, um homem subtraído de si mesmo, em suas ausências alcoólicas onde trafega seu olhar pela inútil paisagem sempre confundida com Chigago como o escritor se confunde com seus espectros deixados aos interlocutores ao longo da semana através de encontros, entrevistas, jantares e alguma reflexão sobre a serventia de tudo aquilo, porque supõe que nada tem a declarar sobre si mesmo ou sobre a obra que escreveu. Como pouco lhe interessa o que pensam sobre tudo isto os quase selvagens das terras tupiniquins.
Embora a letargia intelectual tenha facultado a Faulkner o esquivar-se de seu desdobramento interior, ele acerta em cheio quando destaca o problema do homem negro por essas paragens. É um trópico melancólico esse repleto de más lembranças a chicotearem a elite que as vezes é também parte da Casa Grande e se sente desprestigiada quando lhe apontam o dedo, intimando culpa.
A narrativa tem humor. Não no sentido estrito, histriônico. A passagem em que visita o Butantã é algo hilária, discreta sobre o riso que se quer dar. Mas a pergunta é estamos rindo com ele, dele ou ele está caçoando de nós? Antônio Dutra arquitetou sua narrativa como um grande autor deve fazer – armou o circo e está de longe vendo a lona pegar fogo.
Comentários
entra no blog http://dicassobrenada.blogspot.com/ e informa o processo do livro. o toninho entrou no meu blog e se interessou.
Parabéns!!!
Aurea