O Santo
A fileira de fiéis encordoados em torno da igreja. O santo esplendoroso acima de suas cabeças tocado, ungido, aplaudido e levado à frente até ao altar. Mulheres desmaiam. Homens comprimem os lábios em suas orações.
As súplicas dos mais desesperados podem ser ouvidas longe. Mais atrás uma legião de aleijados – todos maltrapilhos – sob o olhar piedoso da multidão à beira da calçada que atira pequenos vidros com um liquido abençoado que alguns dos deficientes espalham pelo corpo como um bronzeador. Os carros não se calam, encobrindo as orações, avançando aos trancos pelos buracos cavados com dificuldade, infiltram-se com movimentos hesitantes, preocupados em atropelar algum infeliz.
Os fiéis não cedem um milímetro em seus passos vagarosos, cada um deles carrega a folhinha com a estampa do santo, fitas amarradas ao corpo, cartas e pedaços em cera dos membros restaurados pelo milagre, pela devoção à divindade.
Outros, melancólicos, seguem a fila na esperança de alcançarem as graças dos inúmeros que ali estão, certa inveja se esgueira em seus olhos, não disfarçam o incômodo por ainda estarem na condição de sofrimento. A imagem do santo está no altar. O padre profere um longo sermão.
A vida do santo é revisitada, seus atos heróicos exaltados, sua abnegação exortada, sua humildade incitada como exemplo a ser seguido.
As mulheres caem em prantos violentos, batem repetidas vezes com a mão nos tórax atrofiados, olham o céu da igreja como se da abóbada fossem cair os anjos.
Os homens caminham de joelho se flagelando com chicotes finos, lacerando as costas, murmurando a oração que lhe rendeu as glórias de suas curas.
Os velhos apóiam-se em bengalas, o andar vagaroso é respeitado pelos demais. Trazem consigo as marcas de operações bem sucedidas e réplicas em cera do órgão restabelecido.
As crianças vestidas com a roupa domingueira beijam as vestes do santo, voltando levemente os olhos para cima como pedindo a aprovação do gesto. Às mais novas, apresentadas como saíram do ventre choram, vendo o mundo de ponta a cabeça.
A cidade parada. Uma fileira imensa de automóveis estende-se até o fim da avenida. Os vendedores surgem salpicados em vários pontos. “Ô, água!”, “Olha, a Coca – Cola”, “Ô, o Biscoito Globo, quem comer vai querer repetir de novo”. Os pregões ascendem ao céu junto das preces.
Um fiel dança para o santo. Um batuque se mistura aos vapores das barraquinhas de churrasco. Atravessam rápidos os moradores dos arredores. Os cães ladram para os carros e bicicletas.
O céu desce ao toque dos homens, condoído por suas preces; animado por suas súplicas.
Rasga o azul do verão as vestes do santo – já longe do altar – correndo novamente pelas mãos do povo.
As súplicas dos mais desesperados podem ser ouvidas longe. Mais atrás uma legião de aleijados – todos maltrapilhos – sob o olhar piedoso da multidão à beira da calçada que atira pequenos vidros com um liquido abençoado que alguns dos deficientes espalham pelo corpo como um bronzeador. Os carros não se calam, encobrindo as orações, avançando aos trancos pelos buracos cavados com dificuldade, infiltram-se com movimentos hesitantes, preocupados em atropelar algum infeliz.
Os fiéis não cedem um milímetro em seus passos vagarosos, cada um deles carrega a folhinha com a estampa do santo, fitas amarradas ao corpo, cartas e pedaços em cera dos membros restaurados pelo milagre, pela devoção à divindade.
Outros, melancólicos, seguem a fila na esperança de alcançarem as graças dos inúmeros que ali estão, certa inveja se esgueira em seus olhos, não disfarçam o incômodo por ainda estarem na condição de sofrimento. A imagem do santo está no altar. O padre profere um longo sermão.
A vida do santo é revisitada, seus atos heróicos exaltados, sua abnegação exortada, sua humildade incitada como exemplo a ser seguido.
As mulheres caem em prantos violentos, batem repetidas vezes com a mão nos tórax atrofiados, olham o céu da igreja como se da abóbada fossem cair os anjos.
Os homens caminham de joelho se flagelando com chicotes finos, lacerando as costas, murmurando a oração que lhe rendeu as glórias de suas curas.
Os velhos apóiam-se em bengalas, o andar vagaroso é respeitado pelos demais. Trazem consigo as marcas de operações bem sucedidas e réplicas em cera do órgão restabelecido.
As crianças vestidas com a roupa domingueira beijam as vestes do santo, voltando levemente os olhos para cima como pedindo a aprovação do gesto. Às mais novas, apresentadas como saíram do ventre choram, vendo o mundo de ponta a cabeça.
A cidade parada. Uma fileira imensa de automóveis estende-se até o fim da avenida. Os vendedores surgem salpicados em vários pontos. “Ô, água!”, “Olha, a Coca – Cola”, “Ô, o Biscoito Globo, quem comer vai querer repetir de novo”. Os pregões ascendem ao céu junto das preces.
Um fiel dança para o santo. Um batuque se mistura aos vapores das barraquinhas de churrasco. Atravessam rápidos os moradores dos arredores. Os cães ladram para os carros e bicicletas.
O céu desce ao toque dos homens, condoído por suas preces; animado por suas súplicas.
Rasga o azul do verão as vestes do santo – já longe do altar – correndo novamente pelas mãos do povo.
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