Augusto dos Anjos Parte I
O poeta paraibano Augusto dos Anjos é notadamente marcado pela sua concepção pessimista em relação à existência. O estandarte de sua poesia desfila pelas agruras do homem, pela sua desintegração com a morte, compartilhando com Baudelaire uma estética da repugnância, do apodrecimento, da carniça, se faz entre os nossos poetas o arauto das novidades que o vate francês introduziu nas letras de sua pátria. O estudo comparado dos dois poetas seria salutar para exemplificar suas similaridades, os pontos de contato de suas criações poéticas como também afirmar a originalidade de ambos no tratamento do material poético de que dispunham.
Entretanto, não é sobre essa faceta do poeta paraibano que iremos repousar nossa dissertação, que se focará em uma concepção particular de religiosidade no eu lírico desse criador. No entanto, é preciso antes, acercar-se dos clichês, justificáveis, contudo injustos, a que poesia de Augusto dos Anjos esta submetida. O primeiro deles é a alcunha de poeta da Dor – apesar de justificada em seus versos em sonetos como Hino à Dor, em que proclama “És suprema! Os meus átomos se ufanam/ De pertencer-te, oh! Dor, ancoradouro/ Dos desgraçados, sol do cérebro, ouro/ De que as próprias desgraças se engalanam!” e a concepção de pessimismo corroborado em O Corrupião, em que o poeta enxerga o homem como esse pássaro engaiolado, impossibilitado da ânsia de alto voar. Em sua concepção, o homem está destinado a atmosfera livre, ao amplo éter belo, ambicionando à integração a uma substância cósmica, ao transcendente mistério aludido em Último Credo. Versos dessa natureza fixaram em Augusto dos Anjos o cartaz justificável, no entanto, redutor, de um poeta condoído com a situação humana, assaltado pelas incertezas de uma existência atribulada, preso a um corpo que o impede de uma ação efetiva para realizar sua união ao universal, talvez vestígios de uma educação castrante e repleta de culpabilidade orientada por certo ideal de cristandade que ele se ocupará em dizimar e refere-se desta forma a isto: “Há mais filosofia neste escarro/ Do que em toda a moral do Cristianismo”. É uma afirmação repleta de sensacionalismo e polêmica – ingênua se levada ao pé da letra, julgando tratar-se de um poeta como Augusto dos Anjos que se esforçava em se livrar de esquematismos em seu trabalho poético, mas é verdade que revela a busca de um outro caminho para a compreensão do Ser e sua relação com a Natureza, vendo sofrimento e dor nas crenças antigas, herdadas dos antepassados, marcada profundamente pela lembrança materna onde esses rudimentos foram aprendidos, sulcando fundo o caráter do menino, impressionando mais tarde, de maneira negativa, o homem.
A pecha como cantor das misérias corporais, da dissolução da matéria orgânica é compreendido quando se observa nesse ângulo o poeta. “Eu, filho do carbono e do amoníaco” separa-o dos demais poetas em exercício em sua época, os parnasianos; aumentando sua situação de marginal, distanciando sua produção tanto a nível vocabular quanto de ideário de poetas como Olavo Bilac – isto para citar um expoente. Enquanto a natureza do homem para os parnasianos tinha atributos divinos – a referência a uma gênese helenística é presente na maioria dos trabalhos dessa escola; Augusto dos Anjos recorre dessa argumentação: o homem é trazido ao nível das demais coisas, é a sua perecibilidade que está em questão. A poética da carniça, da podridão, dos vermes, da bicharia como se expôs o ponto de contato de Baudelaire, em suas Flores do Mal, e Augusto com seu Eu e Outros Poesias. O título do livro, sugestivo desse posicionamento do poeta, colocando-se, ainda que de forma abstrata, em meio à experiência que constitui a sua visão.
A religiosidade do homem Augusto dos Anjos é expandida através de uma concepção muito aproximada de um budismo em que a natureza é colocada no centro e as árvores ocupam um lugar especial na espiritualidade e afetividade do poeta. Debaixo do tamarindo é o exemplo desse comportamento que representa uma outra via, excetuando a educação cristã, como alternativa a uma filosofia que se adequada ao materialismo de sua poesia. A árvore debaixo da qual Buda encontrou a iluminação é cenário para lembranças da infância.
Entretanto, não é sobre essa faceta do poeta paraibano que iremos repousar nossa dissertação, que se focará em uma concepção particular de religiosidade no eu lírico desse criador. No entanto, é preciso antes, acercar-se dos clichês, justificáveis, contudo injustos, a que poesia de Augusto dos Anjos esta submetida. O primeiro deles é a alcunha de poeta da Dor – apesar de justificada em seus versos em sonetos como Hino à Dor, em que proclama “És suprema! Os meus átomos se ufanam/ De pertencer-te, oh! Dor, ancoradouro/ Dos desgraçados, sol do cérebro, ouro/ De que as próprias desgraças se engalanam!” e a concepção de pessimismo corroborado em O Corrupião, em que o poeta enxerga o homem como esse pássaro engaiolado, impossibilitado da ânsia de alto voar. Em sua concepção, o homem está destinado a atmosfera livre, ao amplo éter belo, ambicionando à integração a uma substância cósmica, ao transcendente mistério aludido em Último Credo. Versos dessa natureza fixaram em Augusto dos Anjos o cartaz justificável, no entanto, redutor, de um poeta condoído com a situação humana, assaltado pelas incertezas de uma existência atribulada, preso a um corpo que o impede de uma ação efetiva para realizar sua união ao universal, talvez vestígios de uma educação castrante e repleta de culpabilidade orientada por certo ideal de cristandade que ele se ocupará em dizimar e refere-se desta forma a isto: “Há mais filosofia neste escarro/ Do que em toda a moral do Cristianismo”. É uma afirmação repleta de sensacionalismo e polêmica – ingênua se levada ao pé da letra, julgando tratar-se de um poeta como Augusto dos Anjos que se esforçava em se livrar de esquematismos em seu trabalho poético, mas é verdade que revela a busca de um outro caminho para a compreensão do Ser e sua relação com a Natureza, vendo sofrimento e dor nas crenças antigas, herdadas dos antepassados, marcada profundamente pela lembrança materna onde esses rudimentos foram aprendidos, sulcando fundo o caráter do menino, impressionando mais tarde, de maneira negativa, o homem.
A pecha como cantor das misérias corporais, da dissolução da matéria orgânica é compreendido quando se observa nesse ângulo o poeta. “Eu, filho do carbono e do amoníaco” separa-o dos demais poetas em exercício em sua época, os parnasianos; aumentando sua situação de marginal, distanciando sua produção tanto a nível vocabular quanto de ideário de poetas como Olavo Bilac – isto para citar um expoente. Enquanto a natureza do homem para os parnasianos tinha atributos divinos – a referência a uma gênese helenística é presente na maioria dos trabalhos dessa escola; Augusto dos Anjos recorre dessa argumentação: o homem é trazido ao nível das demais coisas, é a sua perecibilidade que está em questão. A poética da carniça, da podridão, dos vermes, da bicharia como se expôs o ponto de contato de Baudelaire, em suas Flores do Mal, e Augusto com seu Eu e Outros Poesias. O título do livro, sugestivo desse posicionamento do poeta, colocando-se, ainda que de forma abstrata, em meio à experiência que constitui a sua visão.
A religiosidade do homem Augusto dos Anjos é expandida através de uma concepção muito aproximada de um budismo em que a natureza é colocada no centro e as árvores ocupam um lugar especial na espiritualidade e afetividade do poeta. Debaixo do tamarindo é o exemplo desse comportamento que representa uma outra via, excetuando a educação cristã, como alternativa a uma filosofia que se adequada ao materialismo de sua poesia. A árvore debaixo da qual Buda encontrou a iluminação é cenário para lembranças da infância.
Comentários
Não consegui, por falta de tempo, ler as biografias de belíssimo poeta, mas, lastimo que não tenha chegado às conclusões camunianas. Algo como "vai dar tudo errada, mas sejamos felizes assim mesmo". Um abraço e belíssimo trabalho que está desenvolvendo neste blog.
Máximo Lustosa