Sobre a Confiança no Ambiente de Trabalho

Para Aurea
"Nesse dia tão tristonho
Fiz promessa pro santo,
Que me arranjasse casamento.
Valei-me Santo Antônio!
Essa mulher
Não me sai do pensamento."
A confiança é um artigo de luxo no ambiente de trabalho. É moeda forte nos tratos com os companheiros, e, em certas ocasiões define o caráter de uma queixa ou confidência quando se trata de se tomar uma decisão importante a respeito de carreiras e o futuro profissional. Portanto, se alguém a tem consigo trate de não desperdiçá-la, porque raramente você irá conseguir restaurá-la caso venha a perdê-la. A confiança solidifica relações, possibilitando que a verdade surja sem os inconvenientes das delações ou das descobertas indesejadas. É um exercício constante a confiança. E também doloroso porque não se sabe bem se a pessoa com quem estamos tratando está sendo verdadeira, e nos estima tanto quanto estimamos a ela.

O funcionário trabalhava com seus amigos em uma empreitada onde todos já cansados pensavam na remuneração que seria ganha na conclusão do serviço. Cada um tinha um plano onde investiria o dinheiro satisfazendo necessidades pessoais – atendendo a caprichos como ter um walkman – ou da família – comprando aquele eletrodoméstico que falta em casa para facilitar a vida da patroa. Embora cada um divergisse quanto ao emprego dos recursos que seriam captados, em todos imperava a ambição de serem logo remunerados para presentearem ou se auto-presentearem com maior ou menor rapidez. O tempo foi passando e nada do pagamento aparecer. A insatisfação começou a aparecer no comportamento dos homens, o trabalho ficou mais lento, as tarefas simples começaram a ser executadas com tal minúcia que demorava duas vezes mais que o tempo normal.

Somente um único funcionário trabalhava inspirando aos outros para que se resignassem, porque o patrão não esquecera deles. E de mais a mais, não restava muito que fazer. Todo o dia repetia a mesma ladainha. Os colegas, percebendo que era sincero o apelo, retornaram ao trabalho com mais afinco, terminando o que antes se arrastava.

Na saída, o hábito era a turma se reunir para jogar conversa fora no bar nas imediações. Ali se exorcizavam os problemas, descarregava-se a tensão através das conversas agitadas em torno de paixões comuns. Um dos funcionários de turno não percebeu a presença do colega que inspirara aos demais a continuarem o serviço, mas não ligou ao caso, tomou mais um copo de cerveja, esbravejando contra o time que ganhava do seu enquanto assistia à partida de futebol na tevê.

No dia seguinte, toda turma estava reunida no refeitório, quando um supervisor entrou procurando pelo tal funcionário. Pediu aos demais que assim que o vissem que ele fosse encaminhado para sua presença, porque precisavam conversar. Todos se alarmaram, menos o funcionário.

Não poderia ter voltado melhor do encontro. Disse que eram bobagens, o mesmo de sempre, muito cacique para pouco índio, emendou os clichês que conhecia, afastando do pensamento dos companheiros a possibilidade de perigo que haviam pressentido.

Vários outros encontros forma exigidos pelo supervisor. A desconfiança agora era de que ele, o supervisor, tivesse preferências extravagantes, porque o companheiro exigido era um homem bonito. Não se levou a sério essa hipótese, contrariada pelos trabalhadores mais velhos e conhecedores do comportamento do supervisor. Então alguém, sabe-se lá porque carga dágua, argumentou que poderia ser delação. Isto mexeu com o ânimo dos homens. Resolveram vigiar de perto o companheiro. Este não havia percebido nenhuma alteração na atitude dos companheiros de trabalho; agia como se nada fugisse do normal e se misturava aos demais em suas brincadeiras.

As suspeitas foram confirmadas depois que um serviço longo fora concluído. Todos reclamavam o atraso no pagamento. Ele desta vez não exortou os companheiros ao trabalho, uniu-se ao grupo, lamentando a sorte, maldizendo também ao atraso que impossibilitaria o acerto de algumas contas em atraso. Mas não convencia em suas queixas.

Não contava com um descuido.

No horário de saída do expediente, saiu às escondidas, esgueirando-se para não ser percebido até o escritório do supervisor. Os companheiros que já desconfiavam dele acabaram por segui-lo. Lá, colados à porta, escutaram a conversa mais triste que seus ouvidos testemunharam e seus olhos viram. O funcionário recebia o ordenado acrescido das mãos do supervisor em troca de informações sobre as turmas de serviço no local onde estava, sustentando aos olhos dos demais que não havia sequer visto a cor do dinheiro.

A confiança é um artigo de luxo no ambiente de trabalho. Se você a tem, não desperdice. E nunca se esqueça de que lado está:, porque isso pode ser um caminho sem volta.

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