Centro de Convivência Textual - trecho de transcrição da aula

1º Relatório de aula do Centro de Convivência Textual – Oficina Online ministrada por Mariel Reis com administração de Anderson Fonseca



O centro de convivência textual começou com um bom bate-papo entre os seus integrantes.

Abordou-se a necessidade de cultivo de um jardim interior como reserva para a escrita. Lá, neste lugar, o escritor se retirará para conviver com suas cismas e paixões, observará o crescimento de natureza, constatará o tropismo humano em sua construção estética. Um jardim interior não precisará necessariamente ser composto por flores aprazíveis e de olor marcante; poderá ser constituído por plantas exóticas e ásperas. Nestas a beleza é constatada pela convivência, dedicação e afeto. O cultivo de uma vida interior se contrapõe a necessidade fisiológica da confissão e exposição, pregadas exaustivamente pela mídia e redes sociais.

Outro item abordado é a necessidade de um guia. Os integrantes foram instados a procurar um escritor que os acompanhasse nessa descida ao inferno da narrativa. Não um autor qualquer, mas um com quem se identificassem; um escritor que falasse a língua de cada um deles para que prosseguissem o diálogo estético-existencial além da oficina. O guia ou o modelo pode perfeitamente ser imitado, em um primeiro momento, em uma atitude saudável de autodescoberta. No entanto, o esforço é de que durante os inúmeros ensaios, a voz emprestada do guia afaste-se de nossa própria voz, prevalecendo esta última como interação com o mundo e sua percepção.

Redobrou-se o conselho de uma observação minuciosa e severa do próprio universo em busca de nossas próprias questões acerca do que nos cerca e a máxima sinceridade ao abordá-las em um primeiro tratamento narrativo, sem se importar se o foco narrativo estará em primeira pessoa ou em terceira, nesse momento. Ressaltou-se a importância do fluxo, da continuidade de uma reflexão para a construção narrativa.

Outro aspecto, validado durante as conversas, recaiu sobre as diferentes maneiras como a narrativa interagiu na vida dos participantes do Centro de Convivência Textual, apontando que não apenas os livros tratam do aspecto estudado. Toda a realidade está imersa em discurso e precisamos estar atentos para escutá-lo, tratá-lo e reinventá-los quando o captarmos. Os diferentes aspectos da beleza, com o exemplo dos jardins interiores cultivados, foram compreendidos e assimilados por todos.

Resta saber como entraremos nessa realidade: se de salto ou de chinelo. Como construiremos, textualmente, essa interação. Daí a necessidade da escolha do guia. Aludimos que Dante em sua temporada no inferno tomou Virgilio como tutor. A escolha da figura de Dante não foi aleatória. Por que se a narrativa é o inferno da linguagem que espera uma reordenação, Dante mostra que não é de bons sentimentos que se realiza uma grande literatura e firma com Virgilio sua baliza estética para a orientação de seus impasses e resoluções.


O texto acima fundamenta nossas idéias de que a convivência e o diálogo com os textos clássicos permitem maior fruição estética e existencial, que se potencialmente poderão nos tornar escritores, acabarão também por nos moldar seres mais atentos à alfabetização do humano. 



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