5 novos poemas

Chegando em Casa

Chegando em casa
Abro a porta.
E, no escuro,
Permanecem estáticas:
A cadeira, a roupa,
Toda a extensão da sala,
Tudo o que anseia um futuro...

E repentinamente se escapa
Por entre os espaços do corpo.


Estão se Adiantando

Reviro os documentos na escrivaninha:
Bilhetes, registros e fotografias,
Todas as testemunhas de que estive
Presente em meu tempo.

Datas, carimbos e emolumentos,
Rodam assentes em meu sangue cartorial,
Enquanto lá fora o vento brinca
Com as folhas que rolam soltas
Por todo o quintal.

Entre um recorte e outro de jornal
A notícia de um desastre automobilístico,
A morte de uma bailarina, a internação do tísico,
Um ou outro caso banal.

O anúncio da morte de um conhecido
Que ganhou as feições de um arvoredo,
Devido ao papel tão amarelecido
Dispara em meu corpo o medo:

- Por que estão se adiantando, meus amigos?

Respondem:

“Em um tempo tão sombrio
Cumprimos
As ordens de nos retirarmos
Da vida tão cedo."





Cena Familiar

Lá está minha mãe a catar feijão.
Meu pai, sombrio, lê as notícias
Sobre a crise no jornal.
Meu irmão acompanha uma série na televisão.
Minha irmã escova os cabelos da boneca.
Instalado na solidão, observo a cena,
Lembro do gesso na minha perna.
E sem um motivo qualquer
Arrisco escrever um poema.


Notícia

Atento, leio os jornais,
Na condução rumo ao Centro.
As notícias permanecem banais:
Desastres, mortes, o tempo.
Os homens parecem seguir iguais.

E tudo é desmentido.

Atravessa a avenida
Com zunido de projétil,
Estatela-se do prédio
Fincado está ao chão

Um homem com uma flor.
Um homem como uma flor.

Um homem como uma flor
Sem nenhum perfume.

Um homem como uma flor
De estrume.

Um homem como uma flor
Germinada do ciúme.

Ou  como será noticiado:
Um homem que apenas se matou.








Procura-se

O amor desapareceu novamente.
Por descuido ou acidente ou desastre
Não está mais no quarto ou no sótão
Não adianta mais procurá-lo entre os trastes
De um passado ou escondido em um móvel
Como um relógio parado a procura de conserto.

O amor está desaparecido entre tantas urgências
Do pagamento da conta de luz, do gás e do aluguel,
E nenhuma técnica, nenhuma ciência
Poderá ressuscitá-lo como Jesus fez a Lázaro.

Procura-se notícia acerca do paradeiro do amor.
Está em um balneário ou no interior?
Evadiu-se para o estrangeiro?
Ou simplesmente evaporou?

Aquilo que vier primeiro.
*Dedico os poemas acima a Afonso Romano Sant'anna.

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