Max Gehringer Genérico de Minha Consciência

O empregado comum percebe um soldo de 01 (um) ou 02 (dois) salários acompanhado de benefício que pode ser o vale – transporte ou o ticket – refeição. Ambos com o custo dividido, constado em folha de pagamento, com o patrão. São benefícios válidos para o trabalhador mais pobre e o auxilia a suprir neste intervalo em que se encontra empregado as necessidades mais urgentes e ligadas à preservação do próprio emprego: estar alimentado para não cair doente e chegar no horário correto. Isto significa: não dar prejuízos à empresa e aumentar o seu lucro. Na lógica capitalista isto é o correto: uns detém a força de trabalho e outros o meio de produção.

Alguns setores remuneram melhor. Não que seja uma medida que os coloque acima das exigências do mercado, isto está fora de cogitação. É porque envolvem mais responsabilidades, mais riscos, interferindo diretamente sobre a vida da empresa, em sua percepção de valores. Não é generosidade, é necessidade. Porque o empregado bem remunerado diminui o risco de extravio de patrimônio, sabendo bem o que isto significa. Mas o que acontece quando o trabalho já não atende as necessidades imediatas do trabalhador? Quando ele passa a pagar para trabalhar – expressão corrente quando há o encarecimento do custo de vida e dos meios de acesso e conforto para o exercício da função? Muitos patrões não levam em consideração que o empregado tem uma vida social. Uma vida que se está fora do seu trabalho, está intimamente ligada a este, porque dele provém o sustento e manutenção da vida familiar.


Esta semana um jovem me procurou para ser seu consultor. E expôs o quadro em que vive em sua empresa da seguinte forma: ele não possui casa própria, mora de aluguel em um apartamento de 02 quartos em uma região de sua cidade, pagando em torno de R$ 700,00 com condomínio incluído, tem despesa mensal de luz de R$ 45,00; o gasto com telefonia gira em torno de R$ 100,00; para divertir-se nos fins de semana assiste tevê a cabo no valor mensal de R$ 75,00 e uma taxa simbólica para o pagamento do gás de R$ 20,00. Ele percebe como soldo R$ 1.500,00 para o pagamento de suas contas. Gasta com as despesas o equivalente a R$ 940, 00, restando-lhe para passar o mês R$ 560,00. Se o tal empregado tiver sorte e sua mulher estiver empregada ele tem pouco com que se preocupar. A micharia terá que atender as demandas mais surpreendentes. Ele terá que apertar o cinto, como se diz no popular. Mas, como ele próprio me escreve, não passa mal o mês.


O que o incomoda é ter que pagar para trabalhar em determinados períodos do ano. Nesse período ele recebe uma bonificação que é a soma de um salário igual ao mensal. Mas a sua residência se localiza em uma área de risco da cidade, o trabalho se estende até altas horas da noite, porque é parte da indústria de eventos, os taxistas não cobram pelo taxímetro para levá-lo até a sua casa que para se chegar, é preciso cruzar as três maiores artérias da cidade, chegando a lhe cobrarem R$ 40,00 a corrida. Ele expôs que preferia pagar hospedagem em um hotel barato do se dispor a enfrentar o cansaço e o trânsito para estar novamente no dia seguinte no trabalho sem perda de rendimento em sua atenção nos afazeres da empresa. Nisso concordei porque racionaliza o dinheiro e o tempo disponível, empregando-o em uma noite de descanso.

Perguntei-lhe quanto pagava em uma diária de um hotel modesto, onde pudesse se hospedar sem virar banquete de pulga. Ele me informou que pagava R$ 95,00. Quanto tempo durou o último evento, aquele a que se referiu como o mais longo. Cinco dias. Colocando na ponta do lápis, ele gastou R$ 475,00. Para este evento foi obrigado a comprar um terno para se adequar a uma exigência de traje comum para a ocasião, investiu R$ 132,00. Para se alimentar, preferia comer em um fast food com pratos com preços populares, gastava R$ 13,70 por refeição. Nos cinco dias totalizou em sua despesa para se alimentar R$ 68,50. O custo total ficou em torno de R$ 675,00. Restando-lhe apenas R$ 824,50. Não sabemos se recebeu alguma ajuda de custo ou se foi restituído do valor de alguma de suas despesas, trabalhando apenas com o conceito de que ele próprio desembolsou todo o dinheiro da despesa. A periodicidade dos eventos é importante: a cada 02 (dois) meses. Então pude verificar que somente quando nestes eventos, onde o que lhe sobre é R$ 824,00 e nos meses de salário ordinário, sem acréscimo de nenhuma natureza, onde percebe R$ 560,00 ele pode ver – isto em paisagem monetária separada – a soma igual ao salário que perceberia se não tivesse os gastos com a manutenção de seu bem – estar e aparência para o dia seguinte de trabalho.


Pedi a ele que conversasse com o patrão. A isto, me contrapôs o argumento de que já teria realizado. Um dos sócios – o mais inflexível – não via diferença nele dormir no espaço alugado para trabalhar do que se hospedar em um hotel com um gasto desnecessário. Não levou em consideração a privacidade e outras prioridades como conforto e bem – estar que são fundamentais para o desempenho razoável das funções de trabalho. Negando-se a partilhar as despesas ou mesmo minorá-la. O outro, por ter assistido a encenação do papel do patrão mau, tomou para si o oposto, dando-lhe uma ajuda de custo de R$ 200,00. O gasto caí para R$ 475,00, influenciando diretamente o cálculo anterior, ele gastaria 1/3 do valor percebido como bonificação, restando-lhe junto da soma do mês ordinário R$ 1.585,00.


Expliquei-lhe que poderiam existir contrapartidas como tempo para estudar, isto ele me disse que não tinha. O horário não permitira aperfeiçoamentos, somente cursos rápidos que apenas maquilam a carreira do profissional. Demonstrei que não é uma boa hora para abandonar o emprego, o mercado está retraído e a recolocação pode ser demorada e dolorosa. A renda também cairia, porque como disse no inicio do artigo é comum o pagamento de dois salários com benefícios descontados em folha e tendo em vista as necessidades com que estava envolvido, entraria em déficit, causando amuos psicológicos, culpa e problemas na relação em casa pela mudança no padrão de vida. Pedi que refletisse um modo de ingressar em curso superior ou se preparasse para concursos públicos que podem ajudá-lo em sua ascensão social. E afastá-lo do fantasma do desemprego.


Ele ainda não paga para trabalhar, porque percebe a soma mínima. Não resta dúvida de que mais cedo ou mais tarde pagará. Mas até lá, espero que tenha seguido um desses conselhos.

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