Vinte e um haicais

I
Bolsa de sangue
A vela encarnada,
Um barco: leito.

II
Inapto à multidão
Sigo as linhas,
Sem ponto final.

III
A mão nervosa
Esvoaça nas pernas,
Pomba aflita.

IV
Flores no jarro
Formato de coração,
Aorta canta.

V
O espectro da fruta
Dentro do cesto,
Fome antiga.

VI
Reflexos iguais
Ergo a minha boca,
Uma sendo Outra.

VII
Seta no corpo
Atingido no centro,
Chaga do gozo.

VIII
Leve camada
Suor sobre a boca,
Lençol d’água.

IX
Pontilhada de suor
Sobre o dorso,
Colar de contas.

X
Linhas delgadas
Sobem do busto,
Ramas enrodilhadas.

XI
Contas sobre a mesa.
Vida mínima:
Salmos e labor.

XII
Beiral de pardais
- Vivaz algaravia -,
Solta-se ao sol.

XIII
Nome no muro
Risco incandescente,
Obsceno vergão.

XIV
Arabescos no ombro
Fogem ao dorso,
Primal felina.

XV
Sobre a geladeira
Imóvel pinguim,
Frutas da feira.

XVI
Em hibernação
Sob as raízes
Dos dedos – o teu seio.

XVII
A fronte coroada
Por uma tulipa,
Fonte sagrada.

XVIII
Miro atento
A flor de linhas raras,
Lago do rosto.


XIX
Pavilhão infinito
Rodam palavras,
Em teu ouvido.

XX
Adorno dos lábios
Nicho de contas,
Hábil costura.

XXI
Cercada de pétalas
Brilha a jóia,
Lua dos olhos.


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