A trilha
O predomínio de um mundo natural é uma tônica em minha poesia. Na
plaquete de poemas - Cosmorama - Leonardo Fróes, prefaciador, acentua a
observação simbiótica entre o humano e o vegetal na descrição do corpo feminino
- o que é quase uma constante em meu trajeto poético.
Releio alguns poemas de Trilha,
antologia de poemas de Leonardo Fróes, lançada pela Azougue Editorial. Os
poemas com algum parentesco com a minha prática poética retomam o meu contato
com a natureza que é anterior a qualquer leitura de Henry Thoreau ou dos poetas japoneses.
As testemunhas, nesse caso, são importantes porque partilham conosco um
lugar desaparecido da experiência objetiva, mas que está preservado - intacto
- na subjetiva - isto é nas inúmeras
impressões apreendidas pelos sentidos. Marise
Reis, minha irmã, se lembrará de Leocádio,
avô de Eli Junior, que cultivava a
terra em canteiros espalhados pelas laterais e na frontal do terreno em que
estavam nossas casas.
Ele, Leocádio, levantava-se
cedo, com os instrumentos para lavrar a terra e se entregava ao trabalho. O
período abrangido da experiência descrita situa-se entre final de minha
infância e a pré-adolescência. Logo após, em minha escola de primeiro grau, uma
nova etapa se consolidaria com as aulas de Técnicas
Agrícolas, com a professora Liléa
Souza. E simultaneamente, com a presença de um amigo Alex - excelente desenhista -, morador de um distrito vizinho ao
Rio Paraíba do Sul cuja afinidade com o mundo natural se uniu à minha, ainda
incipiente, em um crescendo que me tomava dias fora de casa em expedições nos
arredores repletos de acidentes geográficos.
Nadávamos no Rio Paraíba do Sul e
escutávamos sobre o transbordo das margens com as cheias. Alex,
infelizmente, hoje está morto. Alguns parentes dele trabalham na Feirinha da
Pavuna e me trazem notícias sobre seu filho que vi pequeno - Axel -, nomeado
assim em homenagem ao vocalista de uma banda de rock.
Cultivo, ainda, a fuga - mesmo na cidade. Vez por outra uma certa
Petrópolis - ruralizada - é um imã do qual é difícil me desprender. Além das
praias longínquas cuja frequência é ainda menor que a desejada por mim, embora
tenha a companhia de uma nadadora especial: minha filha Isabelle Reis.
Para finalizar, Miguel Archanjo (a grafia estará
correta?), pai de Marcio Augusto Campos
Geoguto, um homem ligado à religião afro-brasileira - a umbanda - me
transmitiu um hábito: abraçar árvores. E falou sobre Irôko – O Tempo -, entremeando à conversa palavras em iorubá numa Campo Grande distante...
Trilha, de Leonardo Fróes, é um percurso especial - e espacial - cuja
contaminação é estendida para além do que é dito, representa um inventário pessoal
-, como o galho tomado por rosário em minha caminhada pelas Paineiras. "És
um senhor tão bonito" e agora chove.
Escrito no whatsaap em 21/11/2015
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