Bajulação?


Em minha releitura de obras espíritas, psicografadas por Chico Xavier, adoto um viés sociológico para a compreensão da estratégia da promoção e legitimação, não apenas do espiritismo mineiro, mas em relação ao próprio médium dentro da sociedade mineira caracterizada, mais fortemente, pela influência católica. Nas obras 50 anos Depois e A Renúncia parece flagrante o método em que um grupo de espíritos – em sua maioria ocupado com papéis importantes – é identificado com o grupo proprietário da Fazenda Modelo de Pedro Leopoldo, portanto pertencente aos patrões do médium. Em outra publicação, Ecos de São Bartolomeu, a mesma estratégia. Se antes as personagens pertenciam a nobreza romana e,posteriormente, a francesa; ainda em território francês, em novo imbróglio, uma nova família promoveria  a noite de São Bartolomeu – o massacre de protestantes promovidos pelos reis católicos. As famílias Joviano e Bittencourt, ambas, cada uma à sua maneira, representam, através do viés adotado,  a estratégia de ascensão, legitimação e consolidação, dentro de uma sociedade conservadora e católica, de novas ideias a respeito do outro mundo, além de uma projeção pessoal, amparada no prestígio da gens familiar. Sempre em papéis importantes - mesmo que dolorosos - , Chico Xavier, retirando-se a dimensão metafísica dos relatos, pratica uma espécie de bajulação em que se misturam objetivos pessoais com espirituais, nesse período, em sua vida missionária.


Comentários

Anônimo disse…
Essa leitura é perturbadora! Nada edificante...Mais uma forte energia nos anima a ir por esta senda. Parabéns pela coragem com que tratas do tema. Acompanhando seu blogue, noto que Chico é uma figura que volta e maia aparece por aqui, obrigado por nos reapresentá-lo.

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