O Velho Ramerrão
Um determinado jogador sentenciava “Não existe gol feio. Feio é não fazer gol”. A filosofia de Luiz Felipe Scolari caminhará nesse sentido. É o único conhecido pelo ex-técnico do Palmeiras em sua restrita visão do futebol atualmente. Se a filosofia de resultados for positiva não será problema em vê-lo como o salvador da pátria apontado pelas inúmeras pesquisas, contudo, com a mudança que o futebol vem sofrendo, a surpresa virá se obtivermos uma colocação digna, por exemplo, na Copa das Confederações. E, ainda mais, se nosso futebol estiver à altura de um país pentacampeão mundial. O que é improvável.
Outro ponto, esquecido pelos comentaristas esportivos, é a convocação de jogadores para a seleção brasileira. Qual metodologia norteará a cabeça do atual técnico? Manterá o espírito de renovação presente nos trabalhos de Mano Menezes? Conseguirá modificar a si mesmo? Colocar-se acima de suas superstições? Ou assistiremos a reprise de um filme antigo, ressuscitando clichês e fórmulas ultrapassadas, distanciando-se da ambição do novo, do pulsante, em uma geração de atletas que precisa de um general que saiba não só incentivar seus soldados, mas, comandá-los taticamente para a obtenção da conquista, instruindo-os sobre os perigos do campo de batalha e do preparo do inimigo? Os comentários é que Scolari pode abrir formar um esquadrão de mortos-vivos. E a refeição preferida do batalhão é cérebro – justamente aquilo que lhes falta.
As declarações de Luiz Felipe Scolari durante a sua posse foram desastrosas e infelizes como será sua trajetória: repleta de equívocos e pedidos de desculpa. Alguns comentaristas alegam que a presença de Carlos Alberto Parreira o auxiliará a tomar os rumos corretos, mas, estão enganados. Parreira é parte do mesmo equívoco em que está envolvido Scolari nesse imbróglio que é a CBF. Ambos não necessitavam correr esse risco, a menos que mantenham relações muito próximas a Marin e a Del Nero. Só assim uma troca de favores como essa se justificaria: dois campeões mundiais servirem de cortina de fumaça para os tropeços da entidade máxima do futebol brasileiro.
A máxima “Não existe gol feio. Feio é não fazer gol” mantém-se intacta e entronizada na cabeceira da seleção brasileira em tempos de times como o Barcelona e de seleções como a Espanha. O trabalho de renovação, iniciado por Mano Menezes, espero a continuidade dele pela gestão atual. É uma utopia a minha crença em relação ao prosseguimento desse espírito dinamizador, jovial e talentoso do escrete canarinho. A minha sugestão, para o início da nova gestão de Scolari, é reassistir a toda Eurocopa nos últimos três anos como todo campeonato sul-americano do mesmo período. Talvez daí surja a convicção de que nosso futebol precisa ser readequado, atualizado, reciclado e nossas idéias a respeito dele arejadas. Não somos os favoritos para o título em 2014, mas não precisamos apresentar um espetáculo vergonhoso em nossos gramados. Prescinda-se da Taça, mas não da beleza que é ver garotos como Oscar, Ganso, Neymar, Hulk, Damião,entre outros, de espalharem a alegria dentro de campo.
Seis por Meia Dúzia?
A saída de Mano Menezes e a entrada de Luiz Felipe Scolari. Pode piorar?
A saída de Mano Menezes e a entrada de Luiz Felipe Scolari como técnico da seleção brasileira é o famoso trocar seis por meia dúzia. Talvez até algo pior. Porque, se há uma vantagem, se isso pode ser apontado dessa maneira, é que Mano Menezes procurava reencontrar o jeito brasileiro de jogar, um futebol de expressão alegre e menos sisuda. Luiz Felipe Scolari é a velha escola do futebol brucutu: zagueiros, volantes e cabeças de área. Muda-se o enfoque e a filosofia daquilo que se buscava da seleção brasileira que era a renovação.
O ex-jogador Romário, articulador e ativista da saída de Mano Menezes, mesmo tendo sido um brilhante atacante, está equivocado quando louva a entrada do ex-técnico do Palmeiras para o comando do escrete canarinho. É certo que Luiz Felipe Scolari é um treinador de tiro curto, talvez adequado ao perfil de uma Copa do Mundo, mas não é um treinador com visão tática. É um incentivador, um motivador e não um estrategista. E, mais tarde, a seleção se ressentirá disso. A imprensa esportiva deveria levantar-se para tomar parte dessa discussão, porque Scolari é admitido no cargo para atenuar os escândalos em torno da CBF, para a distração de agravantes que a tornam uma instituição antidemocrática e mafiosa.
Luiz Felipe Scolari não levará o Brasil para a final da Copa de 2014. Ele não é o técnico indicado, não têm as qualidades necessárias para repetir o feito e não será surpresa que diante de seleções pífias o Brasil repita as péssimas atuações obtidas sob o comando de Mano Menezes. Porque o futebol evoluiu tanto no âmbito das Américas quanto na Europa e a mentalidade de parte do futebol brasileiro está presa ao esquema brucutu. Os dois técnicos que poderiam ter sido aproveitados - descartando a volta de Muricy Ramalho - Tite e Cuca, não foram sequer sondados pela CBF. Talvez eles representem o que há de dissonante nessa ladainha do futebol de forte marcação.
Contudo, José Maria Marin é um homem esperto, atento às pesquisas das várias enquetes virtuais. E devido a isso, empossou Luiz Felipe Scolari na cadeira de comandante da seleção brasileira. Porque se Felipão fracassar, e não há dúvidas disso, escutou a voz do povo e a voz do povo é a voz de Deus. E se sair vitorioso, o que será improvável, atribuir-se-á que José Maria Marin é um homem eleito, ouvinte da voz dos anjos e que Scolari era mesmo um enviado dos céus. Em ambos os casos, presidente da CBF terá um álibi - o povo -, com quem repartirá a alegria ou a culpa.
Equívoco e Impasse no Futuro da Seleção Brasileira
A demissão do técnico Mano Menezes foi uma precipitação. Os motivos que o levaram a ser dispensado pela CBF, exatamente pela figura do presidente da entidade José Maria Marin, não foram esclarecidos. Não se sabe o que ocasionou a atitude de Marin. É possível supor que a pressão por parte de ex-jogadores como Romário, principal crítico do técnico, além de alguns comentaristas esportivos contrários a sua permanência e a sua lenta resolução acerca do esquema tático e do quadro de jogadores em suas respectivas posições, tenham contribuído para o desgaste e para a decisão de Marin. Talvez a decisão do presidente da CBF já tivesse sido tomada e anunciada somente agora, evitando a presença de Mano Menezes na Copa das Confederações.
São apenas especulações.
A torcida brasileira não caía de amores por Mano Menezes, tampouco a crítica especializada, mas não podemos lhe negar os méritos à frente da seleção. Primeiro, tinha um planejamento para a renovação da seleção brasileira, embora se limitasse a esquemas táticos funcionais em 1950, mostrava coragem em incrementar o meio de campo articulando-o ao ataque em revezamentos que davam mobilidade ao time em campo. Os erros são parte do cotidiano de um técnico ocupado em descobrir novos rumos para a seleção brasileira e recuperar o futebol – arte. No tocante a essa questão as equivocadas convocações de jogadores que não teriam condições de vestirem a camisa verde amarela não precisam de nomes para exemplificá-las.
O presidente da CBF, José Maria Marin, disse ter pelo menos uns seis nomes para candidatos à vaga de técnico da seleção brasileira. Em um julgamento sensato do panorama do futebol nacional, apontamos como possíveis técnicos em atividade para o cargo, respectivamente: Tite, Abel Braga, Cuca e Muricy Ramalho. Não importa o estilo de jogo praticado por eles, mas, sim, a atuação de cada um deles nos times onde desempenham suas funções, conseguindo resultados que não são desprezíveis em suas campanhas pelos campeonatos em que estão envolvidos. Se nesse grupo está representado um retrocesso no esquema de renovação de jogo, isto é, no resgate do futebol - arte, é outra discussão. Correndo por fora, a especulação da volta de Luiz Felipe Scolari ou a contratação de Pepe Guardiola causam frisson por diferentes motivos.
O retorno de Scolari não somaria novidade nenhuma à atual seleção brasileira; é um técnico esgotado, sua campanha pelo Palmeiras expõe claramente suas insuficiências. Museu é que vive de passado. Pepe Guardiola, embora seja uma escolha superior, os nacionalistas de plantão não admitiriam a presença de um estrangeiro na direção da seleção principal do país.
Particularmente, a experiência de intercâmbio, me parece sedutora e bem-vinda. Entre os nomes brasileiros, Muricy Ramalho poderia assumir a seleção brasileira, porque depois da surra levada pelo Santos do Barcelona, o técnico aprendeu que a nossa escolinha de futebol precisa energicamente de mudanças. Tite é outro bom nome. A campanha do Corinthians é prova disso. Sem nenhuma estrela em seu elenco, os resultados são inegáveis. Abel Braga é inquestionável, apesar de alguns senões, comuns a todos os técnicos elencados como prováveis comandantes da seleção brasileira, com o Fluminense. Cuca é surpreendente, criativo, embora reativo demais às críticas, desenvolve um bom trabalho no Atlético-MG.
Mesmo longe da excepcionalidade européia, hoje parâmetro para o julgamento tanto de técnicos quanto de jogadores brasileiros, partilho da opinião de que temos bons profissionais atuando no país. Àqueles que crêem no contrário, avaliam com reducionismo o cenário do futebol brasileiro - que não tem metade do investimento do futebol estrangeiro e nem um terço da estabilidade de que gozam os profissionais esportivos daquelas plagas para o desenvolvimento de seu trabalho. Embora minha torcida seja para que Muricy Ramalho assuma a seleção brasileira, indiscutivelmente os números apontam para outros candidatos mais fortes, como: Tite e Abel Braga.
A percepção lógica atalha caminho em minha análise, mas, num país como o Brasil, com a CBF agindo dessa forma, pode ser que surja uma zebra por aí. E se acontecer, não será nenhuma novidade.
* Todos os artigos são de autoria de Mariel Reis
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