Para Aurea

I
 
Embora o trabalho e os dias
Encham meu espírito de tédio,
E o cansaço de toda a justiça
Perturbe aos meus ouvidos
Com o apelo inútil
De uma tormenta...

Eu repouso no sopro
Que cobre os lírios
Espalhados na sua face.

II

O vento célere entre os fios de ouro
Trançados com ervas perfumadas.
O calor afogueia as jóias do seu rosto,
Murmuram orações os seus lábios de rubi.
Os anjos em coro abençoam a sua visão
E o meu coração confrangido
Teme pela hora de partir.

III

Ó Allah, inventou a noite
O perfeito disfarce do amante,
 Encobre os rastros
Que o leva à casa do amor.

Ó Allah, inventou as marés
A transposição perfeita
Para mostrar quão inconstante
É a natureza do coração.

Allah inventou o poeta
Para que cada coisa
Ganhasse uma história
E sua glória se misturasse
A todas as criaturas.
 
IV

O velho não sabe manejar a beleza da cortesã.
Não sabe cosê-la com os fios da aurora
Preparando-lhe uma túnica tão transparente
Quanto a manhã que ele insiste em tocar
Toda vez que rompe a alvorada.

V

A espuma do banho esconde sua paisagem,
Qual a nuvem o astro flutuante no céu.
Imagino o ocultado pelos véus vaporosos
Presos às gotas d’água que bailam nos seus poros.
Allah, quem me dera morrer embriagado
Na taça do seu umbigo.

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