Cativar - a última ceia
As
minhas ações visam transformar, em primeiro lugar, a mim mesmo. Quando
me debruço para escrever quero apenas dialogar com a parte de mim que
naquele instante pede para ser avistada. É como descobri-la em meio a
um nevoeiro e habitá-la com cuidado para que nada melindre a paisagem
única que irá me mostrar - desolada ou verdejante. Em segundo lugar,
porque me importa a opinião dos meus pares, não todos, mas somente
daqueles que realizaram um bom texto literário, que somem à minha
experiência suas riquezas nesses territórios conquistados por si
mesmos. Em terceiro lugar, creio que não há remédio senão continuar a
escrever. É a única maneira de prosseguir - pelo menos para mim - de
adestrar demônios, de molestar minha carne para que não prolifere em
maldades ou floresça em crimes. Somente continuando a escrever posso me
certificar de alguém um dia poderá vir a se interessar pelo que
enunciei. Há uma parte prática: a publicação. Tentar cativar um
público, mantê-lo sob o domínio, sob o encantamento da literatura
produzida por qualquer um de nós... Mas outro escritor, que está em sua
lista, me disse certa vez: "Mariel, vai ter sempre algum maluco para
publicar aquilo que a gente faz. Procure fazer bons pães, à sua moda, é
claro, quando encontrá-la. Vendê-los deixe a cargo do dono da padaria".
Ele foi simples e certeiro. “E se não vender?", eu perguntei. Ele me
respondeu "Por que não nos deleitarmos com uma última ceia? O pão já
estará disponível, basta passar no supermercado e comprar o vinho".
Então trabalho sem autocomiseração e submeto aos amigos competentes que
me cedem generosamente seus comentários. Cresço e torno-me um gigante,
mesmo que escondido pela densa folhagem.
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