Caminho do Jardim que se Bifurca


Há um grupo de artistas que comunga de uma linguagem escultórica muito próxima, adotam materiais semelhantes e conseguem resultados tão diferentes quanto inovadores. Embora nunca tenham compartilhado uma exposição, creio que já não é sem tempo que se apresentem lado a lado as obras desses criadores: Carlos Tenius, Nicolas Vlavianos e Caciporé Torres. Merecem uma retrospectiva de suas carreiras em grande estilo. Unidos pelo ofício representam um dos mais importantes núcleos da escultura brasileira e dos mais criativos.

Na exposição do CCBB/RJ dos designers brasileiros Irmãos Campana, surpreende a presença de uma cadeira inspirada no trabalho de Caciporé Torres, artista que possui diversas esculturas em locais públicos de São Paulo. A cadeira é indicativa da força do imaginário desse escultor que ultrapassa as fronteiras da própria escultura e inspira outros movimentos com sua poética da força. O abstracionismo de Caciporé Torres funda uma mitologia da cidade, do aço, de um Vulcano moderno a plasmar as energias mecânicas e orgânicas.

Carlos Tenius compartilha juntamente da jornada mítica de Caciporé Torres, somada à de Nicolas Vlavianos. Envereda em arrancar dessa poética da força uma leveza incompreensível devido aos materiais usados para consolidar suas obras. Muitas das vezes seres alados desprendem-se do ferro soldado - mais leves do que o ar - repletos do sopro e do sonho louco de seu criador que está a empurrá-los em direção ao sol. Reinventa um Ícaro, todo ternura e tormento pelos veios que imprime aos caminhos do rígido material que consubstancia seu trabalho.

Um estranho jardineiro é Nicolas Vlavianos. Dribla a passagem do tempo com seus blocos de aço polido, erigindo-se altos como girassóis futuristas. Sinalizadores de sua semeadura, sua obra é uma Ceres fecunda. Abre-se em pássaros que vigiam o canteiro em que está pousado seu criador, vigilantes a capturar-lhes os delírios com os quais se alimentam e se refundam na vontade criativa e na força com que suas mãos impõem ao material a resignação para se moldarem a esse outro espírito que se lhe escapa.

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