O Passageiro - Exercício

O táxi parou diante do edifício. Um senhor baixo e gordo desembarcou. Vestia-se com apuro, sem nenhum exagero e trazia somente uma pequena mala como bagagem. Pagou a corrida sem contrariedade, mesmo pressentindo que estava sendo roubado. Não importava. Era um jogo, pensava. A cabeça tomada por outra ordem de pensamento, sua preocupação não se relacionava a um taxista ladrão. Tinha coisas mais sérias para se ocupar. Andava lentamente em direção à recepção do hotel, com o bilhete da reserva nas mãos. A aparência do atendente não lhe inspirou simpatia, talvez por se tratar de um homem com uma cor de pele acentuadamente negra, isso o obrigava à recordações incômodas, talvez a causa de sua antipatia nascesse desse acaso. Procurou esquecer-se do fato. O carregador se aproximou. Não havia nenhuma necessidade, falou em um espanhol incompreensível.

O hotel não tinha elevador. Subiu uma escada antiga, toda em madeira, com degraus gastos. Duvidosa se agüentaria em pé por mais tempo. Lentamente experimentou o peso do corpo em cada um dos degraus, parava como se esperasse a qualquer momento que a construção ruir. O atendente lamentou o fato de não terem um elevador, obrigando-o o hóspede idoso a esse tipo de esforço. Ele não agradeceu as palavras do rapaz, prosseguiu com vontade de lhe dizer que não era um idoso, seu aspecto era o de um homem envelhecido realmente, mas sua mente seguia lúcida e ágil. O corpo havia se esquecido disto. Era o que chocava. Quando atingiu o andar do quarto recuperou a confiança, caminhando rápido, as chaves na mão. A porta escura do aposento custou a entender que ele forçava passagem, tendo então que empurrá-la com violência para abri-la. O interior do quarto estava escuro e abafado. Na escuridão tateou a parede em busca do comutador da luz, encontrando-o quase por acaso. Quando acendeu a lâmpada, o interior iluminado do aposento mostrou-se pobre. A porta do banheiro entreaberta. Uma cama e uma cômoda. A televisão pendurada em uma prateleira fixada em um corte na parede. Um pequeno frigobar com bebidas quentes, copos e refrigerantes. A janela acanhada na paisagem do quarto, investigava o jardim do outro lado da rua.

Dormiria. Não conseguira dormir na viagem. Tirou os sapatos, ajeitando-os em um lugar embaixo da cama. Ligou o ventilador de teto. Outro detalhe que lhe passara despercebido. O cansaço estava lhe tirando a capacidade de percepção do ambiente, portanto era imperioso que descansasse depressa se não quisesse ter mais nenhuma surpresa.

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