Meu Encontro com Tony Tornado
Na multidão de um shopping da Zona Norte do Rio de Janeiro se destacava a figura de um homem negro, caminhando com lentidão, observando as vitrines, acompanhado por seus familiares. Sua atitude contrastava com a pressa inadiável dos passantes, sempre presas de algum compromisso urgente ou de um encontro que poderá definir dali para frente sua vida amorosa ou financeira. Quase ninguém percebe a sua presença. Os palpites não cessam: pode ser um jogador de basquete ou vôlei, ou um segurança à paisana em seu turno de trabalho, ou apenas um visitante de terras estrangeiras que mal fale a nossa língua, e, ainda, na pior das hipóteses, envergando aquela carranca impenetrável, um figurão do jogo do bicho, porque é só olhar para o pescoço e os dedos da mão para vê-los cobertos por anéis e cordões reluzentes, ponteando o andar com um gingado, embalado por uma música que só ele poderia ouvir e sentir o ritmo sobre cada músculo que reagia suavemente ao comando dessa canção. As hipóteses todas erradas – e certas de alguma forma, porque se tratava de um artista estimado pelo público, experimentado em papéis diversos, não impedindo que um dia ele tenha interpretado qualquer uma personagens acima ou que venha a realizá-lo daqui a uma semana. Quando o abordei não esperava a receptividade, abriu um largo sorriso e disse: ”E aí, Dom?” O que me surpreendeu. Confessei que não imaginava encontrá-lo por ali, porque seu reduto – a área de Jacarepaguá – ficava um pouco distante, apesar de linha amarela contribuir para que isso fosse corrigido. Tony Tornado andava pelos corredores do shopping habituado a atrair os olhares mais atentos, porque, como disse, as pessoas têm pressa demais e eu não sou o Francisco Cuoco, finalizou dando um pequeno riso. A minha admiração por Tony Tornado está muito menos por conta de suas aparições na televisão do que por sua carreira meteórica na música popular com BR-3, com seu desempenho repleto de energia em um dos Festivais da Canção, onde desbancou muita gente talentosa. Ele se referiu a isso como o ponto máximo de sua carreira, porque curti demais a música. A atuação é para ir quebrando um galho. O meu negócio mesmo é cantar. Na época, Tony passou por um mau bocado. Em um dos espetáculos fez a saudação dos Panteras Negras – o punho fechado, erguido acima da cabeça – foi preso pelo extinto DOPS. Lá cantou para cada policial a música BR-3, isso fez com que tomasse certa aversão à composição. A conversa durou pouco tempo, contou-me este caso curioso de sua prisão, não se demorando muito, afinal, curtia o fim de semana como quase um anônimo – o que já era uma felicidade. Indicou um projeto de música que estava em negociação – não entendi bem se havia voltado a compor ou se iria gravar um disco – sobre soul music. Na despedida, um forte aperto de mãos, votos mútuos de felicidade e aquele homem enorme se embrenhando na multidão novamente, seguindo a correnteza que levava a todas as direções e a lugar algum como eu mesmo, dando a mão a minha mulher e a minha filha, tomando outra vertente do rio que afluía de todos os cantos.
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