Enjaulado pela linguagem
Escreve-lhe esse animal aborrecido pela linguagem. Enjaulado pelas listras de sol que toldam os edifícios da cidade, ressentindo-se de nossos diálogos, agora restritos, presa de intervalos obrigatórios e de um tempo escasso diante das necessidades de uma existência que não combina bem com o sonho da literatura. Porque o força a tornar-se tão estéril quanto ela que deverá ter seu término na campa, enquanto esse outro se evade para os campos celestes e abriga-se sob as túnicas dos deuses que se ocupam brevemente dele para saber com que deliram os homens. E certos de que não sonhamos as mesmas paisagens, porque a enfeitamos com mais cor e acossa-nos a mortalidade, passam os deuses a sonhar com esses delírios tão voláteis quanto nossa matéria e anseiam ser como nós – fugidios.
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