Premiações Literárias em Família

Queridos amigos,

Hoje descobri que sou uma das finalistas do concurso universitário "O Petróleo Tem que Ser Nosso", e preciso compartilhar com vocês esta felicidade. Estou entre as primeiras colocadas da categoria poesia. A classificação final será dada na cerimônia de premiação, dia 25 de fevereiro.

Para quem tiver paciência de ler, o poema enviado foi esse:


DIAMANTE NEGRO

Doce e negro,
Recheio verde
Açúcar impalpável.
Gotas e gotas de suor,
Com uma pitada fundamental
De pré- sal ultra-marinho

Muito esperamos o bolo crescer,
Chegou a hora de dividi-lo

Décadas de espera, é chegada a hora!
A criançada se estapeia,
De olho no recheio
Oriundo do delicioso confeito negro que lhe dá base

Quando o pai sai, a algazarra se estabelece!
Dona Lei discute, tenta impôr ordem:
O grosso do bolo é da visita
Estrangeira
Vem de longe
Nos prestigia

Cria emprego, traz tecnologia.
Métodos de gestão,
Mão de obra qualificada,
Força de trabalho barata.
Impostos pagos, lucros idos,
Natureza arriscada, riqueza que se esvai

Setenta por cento do majestoso bolo, crianças,
È da visita. A parte do leão, africano como nós.
È da majestade, rei da selva de pedra,
Dono do capital e da guerra.

A criançada bate pé, estapeando-se entre si.
Neste jogo mundano, ninguém quer ser a África
Encantada, explorada, esvaziada
Das minas de diamantes e do povo famélico
Das minas de esmeraldas e da guerra arrastada
Das maiores minas de ouro e da menor expectativa de vida
Da modernidade que nunca chega

São setenta por cento do bolo, crianças!!!
Suficientes para pôr na mesa o fino bacalhau norueguês
Do pleno emprego
Do estado de bem estar social
Do povo que foge da falta de problemas
E por causa deles vêm nos visitar

Oh, Pai! Onde estás tu, que não nos responde?
Vem botar ordem neste randevouz
Pagar a dívida de Cabral com a tua sociedade,
Com teus próprios recursos,
Sem recorrer ao capital estrangeiro,
Fazer crescer a dignidade
Deste povo, que há 500 anos é sufocado
Pela exploração econômica em benefício do estrangeiro.

E finalmente, quer o poder de comer o bolo
Assado no avesso do ventre
Da mãe operária, trabalhadora de cada um dos nove meses

Sovado com o murro do negro seqüestrado e açoitado
Para fazer açúcar e colher o leite

Temperado com o suor de cada brasileiro,
Imigrante, emigrado, autóctone ou miscigenado
Entre a floresta, a casa grande, a senzala e os porões.
Os que sangram ou foram sangrados

O bolo avistado ao longe, do alto do morro
Por nossos breves jovens, constantemente vigiado.

Brigando, as crianças não percebem
Que são setenta por cento.
Setenta por cento!

Setenta por cento do bolo
Salivado bolo
Suado bolo
Sangrado bolo
Sonhado bolo

Setenta por cento do bolo é para as visitas.


Aurea Beart

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