Arquétipos Contemporâneos
1. A sociedade contemporânea não pode restringir seus arquétipos somente às emanações do binômio homem e mulher, porque a família contemporânea, alterada por liberdades conquistadas tanto no terreno político quanto sexual, tornaram vulnerável a conceituação enquadrada e resolvida por psicólogos com as cristalizações arquetípicas mais comuns.
2. Santa/Puta - Nos espaços modernos de convivência, podemos ver cada vez mais mulheres exercendo ambos os comportamentos, porque estão em um lugar social flexível, porque as conquistas femininas avançaram, libertando-as para o ambiente onde a sexualidade pode ser liberada sem culpa.
3. Guerreiro/Amante - Nestes mesmos espaços, o homem pode também se modificar, alterando a imagem que antes se possuía dele, porque com os avanços feministas, as mulheres conquistando postos de trabalho e a revolução feminina, o macho alfa, provedor familiar, ficou deslocado, criando uma nova modalidade no topos masculino. Nessa modalidade, estão amalgamado os dois arquétipos que antes pareciam contraditórios e excludentes, hoje convivem perfeitamente harmônicos entre si.
4. A fragilização do homem contemporâneo é um fenômeno que merece ainda pouco estudo, mas alterou com certeza a percepção que ele tem de si e que os outros construíram dele através dos anos.
5. A sociedade contemporânea se tornou hedonista, a cultura da beleza chegou ao extremo, tanto que arrisco que daqui a alguns anos não será mais possível um livro como aquele realizado por Umberto Eco sobre a História da Feiúra.
6. O hedonismo acentuado ligado a correntes de consumo identificadas às empresas cosméticas e a indústria de cirurgias plásticas que atendem cada vez mais ao filão crescente de pessoas que se querem enfileirar a esta tendência.
7. Talvez sejam estas as tendências que culminem nesse novo arquétipo - se assim poderíamos chamar - no espaço urbano, nesse ser situado nas fronteiras dessas classificações, reunindo dicotomias que impossibilitam encaixá-lo com perfeição em algum dos moldes já conhecidos: o metrossexual. Politicamente é o ponto máximo dessa exigência pela beleza artificialmente construída pautada pela sociedade de consumo cartelizada nas indústrias já citadas.
8. Se o metrossexual é um arquétipo contemporâneo, porque representa um imaginário próprio, povoado pelo anseio de estético e suas implicações para consegui-lo, onde o feio está cada vez mais encerrado em porões de clínicas de lipo - escultura e cirurgias plásticas mais variadas ou atrás de máscaras faciais e dietas disciplinadoras do corpo, porque toda essa indústria quer amordaçar o corpo natural e alçá-lo ao nível artificial ou mesmo virtual, porque o homem contemporâneo tem em sua esfera flutuando cada vez mais perto esta abstração de si, que em outro século não seria possível. Imaginem como um homem do século XVII insatisfeito com o tamanho de seu nariz, quisesse trocá-lo por outro ou (re)esculpi-lo? Ou ver o seu corpo ligado às exigências de beleza não condiziam com a (sua) mentalidade ou à de sua época? Justamente é isso o que nos ocorre: uma ditadura da beleza a todo custo.
9. O metrossexual reúne as intersecções entre arquétipos já conhecidos como o Guerreiro/ Amante. Porque está neste limiar sua ação e estar no espaço urbano e de seu EU. Possuí o imaginário antes pertencente só as mulheres, acossadas por sua educação doméstica e apelos publicitários a estarem prontas para seu homem.
10. Se a deslocação do binômio garante um certa democracia das relações, também as encerra em exigências rígidas dentro de um padrão de felicidade e bem- estar projetados pela sociedade de consumo, que se não for atingido causará frustração e dor.
11. As transformações contemporâneas em parte são reivindicações legítimas de uma parcela da sociedade, mas não podemos ser ingênuos em acreditar somente na vontade de transformação social, porque verificamos que nisto há boa parcela dos aparelhos sociais que fomentam necessidades que às vezes se mostram desprovidas de qualquer significação para o período, mas como existe um mercado que a regula e sua sobrevivência estará garantida e justificada.
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