Comentário por e-mail dos Pequenos Poemas

Mariel,

Tenho vivido muito em meio à esquizofrenia nada onírica do Comércio, à analiticidade nada científica da Universidade e à turbulência calma – tantos paradoxos – da espécie de cortiço que tenho em casa, para conseguir fluir, contemplar...

Esse vício na ocularidade. Sim! Andei lendo um pouco de Filosofia – Gastão --, mas é sincero. Palavra de honra! A realidade não é extensão da ótica, embora sua parte mais aparente seja a paisagem... há tantas imagens sob a realidade; vamos esquecer a psicanálise, que precisa deitar-se no divã, com tanta realidade sob a imagem. Mais canto! Poesia, sabor.

É isso, Mariel! Seus haicais tem uma beleza delicada, convite à contemplação, à subjetividade que se encontra na poesia que não se perdeu nos meneios da rudez ou do proselitismo.

Corrija meus erros, Mariel... haicai no renga, poema-divertimento... liberdade! (abaixo as ortodoxias!) Forma que já foi divertimento de letrados; que já foi pertencente a todas as camadas sociais; que é sempre associado a Basho, a Kobayashi Issa ou a alguns de nossos poetas, aventureiros – além de um bem-humorado Millôr. O que dizer de seus haicais?

Pareceu-me escrever aos sentidos.



“Sombras

A Claridade

Envelhece devagar”



Faz-nos divagar nas possibilidades das interpretações e no lugar-comum do entendimento, também. A luz cai, acompanham a penumbra sombras daquilo que possui dimensão – qualquer que seja, e tudo possui --, logo a claridade verá seu fim. Por ora, é fato sua velhice. Lembrando um parágrafo bem-acabado de Margueritr Duras, sentimos outras oportunidades, múltiplas oportunidades, de sacar a mensagem. Fico com o verbo pelo verbo, mais que eufônico: semiótico.

Um haicai talvez encerre em si sua missão. Mensagem cabe a quem lê. Ho-Chi Minh sabia, com os seus, driblar dessa forma os desconhecedores de analogias e metáforas. Mas a linguagem tem suas figuras para serem usadas.



“As folhas

Dançam leves

Pequenos pés”



E a leveza se apropria de nossas almas, sentimos o ar sustentando a matéria, a palavra simbolizando a matéria, a calma.

Mais que imagens de cinema, sugestão, roteiro sofisticado. Estética fotográfica em versos revelados, livres e econômicos – claros.



“Acode a roupa branca

Enforcada na claridade

A luz serpenteia no teto”



Lindo! Que mais falar, além disto? E pode parecer falso; pareça! Poxa, Mariel, eu sou um afetado... babo mesmo. Você é necessário. Senhor de baraço e cutelo quando escreve. Prosódia, função. Faço ler. Já faço o bastante. Comentar cabe aos bons. Eu sou só um apreciador.


Carlos Eduardo Oliva
Estudante de Ciências Sociais/UFRJ

Comentários

Anônimo disse…
bom comeco

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