Uma Consulta Especial
Caro Saulo Gomes,
Prefiro a reflexão de que a inclinação instintiva sobre qualquer assunto. Se este extrapola a minha compreensão, procuro fontes para obter o esclarecimento: sejam livros ou pesquisadores pertinentes as questões em que estou absorvido.
Chamo-me Mariel Reis, escrevo ficção, portanto a inquietação faz parte do meu trabalho, a curiosidade e a invenção. Durante uma pesquisa para a escrita de uma novela sobre o tema do duplo, resolvi propor-me um jogo: tomaria as fotografias de meus pais e tentaria localizá-los em um tempo e espaço diferentes do que habitavam, ou seja, a atualidade. A minha pesquisa, inicialmente, mostrou-se infrutífera. Adiei o projeto da novela. Fui tomado por outras preocupações: financeiras e de saúde. Outras linhas estabeleceram-se em minha vida.
A idéia ficou entre as muitas anotadas em meu caderno para desenvolvimento. Certo dia, recebo uma ligação, do outro lado da linha uma pessoa eufórica me pergunta se tenho interesse ainda sobre a questão do duplo, de minha pesquisa abandonada. Digo que sim. Ele garante que a surpresa iria ser agradável, mas chocante. Peço a ela para me enviar o resultado da pesquisa por email: informações e imagens - se havia conseguido. Ela disse que sim. Tinha além de informações, fotografias. Recebi todo o material e sentei-me para analisá-lo. E lá estavam: meu pai e minha mãe. Os retratos (pinturas) assemelhavam-se totalmente. E o pior, minha mãe chamava-se Maria Emília, e a outra Maria Amália. Tinham o mesmo número de filhos. A única diferença entre elas é a de que Maria Amália era branca, e minha mãe, negra. No entanto, minha mãe tem uma irmã de cor mais clara. E a comparação foi quase perfeita. Ou se em um exercício de abstração, imaginasse minha mãe branca, teríamos duas pessoas exatamente iguais.
O reconhecimento de meu pai não me deixou dúvidas: perfeitamente igual. A diferença de tempo entre eles era de 300 anos aproximadamente. As coincidências me moveram a procurar palestrantes espíritas para fazer a seguinte pergunta: Pode o espírito, em suas sucessivas encarnações, decidir por manter certas características físicas e corporais? O espiritismo foi a única via de resposta para o questionamento; mas fracassei em obtê-la. Escrevi ao programa da Rádio Rio de Janeiro, não recebi resposta. Tenho duas hipóteses: ou não receberam minha mensagem ou não souberam como respondê-la, preferindo ignorá-la.
Sou um sujeito despretensioso, a casualidade levou-me ao encontro desta interrogação. O que era um exercício de imaginação encontrou ecos na realidade. Ecos tão fortes que me convenceram de que não há casualidade. Em nosso interior forma-se uma certeza, cuidadosamente analisada, para não se degenerar em presunções e narcisismos: de que entre nós há uma infinidade de outros. Mário de Andrade afirmou, em um poema, de que era trezentos. Embora a minha tendência seja desacreditá-la para manter-me longe da egolatria e da esquizofrenia latente. O Sr., como palestrante espírita, pode arriscar uma resposta? É possível ao espírito resguardar suas características físicas? E outra coisa, para entornar de vez o caldo. Outro dia, descobri que o sobrenome de minha avó paterna era de origem espanhola. Até aí nada demais. Resolvo checar a origem da mãe do sósia de meu pai... Outra coincidência? Será?
Muito obrigado.
Atenciosamente
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