Poema de Reinaldo Ramos

Ouviste a moça?

Meu caro Jorge,
sabes bem
que quem trabalha é que tem razão
mas hoje talvez sintas umas brisas adventícias
de cepa africana
e possas andar sem camisa
rabiscar uns poemas cantados
pra espalhar sem remorso ou ânsia
e cantar o mesmo mantra diuturno
feito faz, assaz bem, o bem-te-vi

E pois, escrever não nos mata
e o que não é de matar, fortalece
- nos adverte o sábio clichê filosófico.
E por nisso falar,
ouviste a moça louçã
da província marítima
e cabeça vã?

Sabias da sintaxe dos sabiás
que sabiamente nos ouvem
e têm na moela o alpiste-palavra
esmigalhado pelas moendas
dos cataventos de moto-contínuo
e um bom bocado de orações insensatas
que o sol nos derreteu da moleira?

Se debalde desexplicamos com as papas da língua
e espalhamos letras em bons lençóis de renda
e com eles serigrafamos poemas benfazejos
nestes céus, azuis feito sonharia a graúna
se dela fosse dado de sonhar (por debaixo do pretume da asa)
eu cá te deixaria uns dedicados
delicados e rústicos
feito a ambrosia e a rapadura
o Olimpo e o Cariri
talhados num alfarrábio de granito, à graveto
na entrada da casa do tempo.



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