Acerca dos Pensamentos Incomuns




É um trabalho de avizinhamento esta minha fala.







Não serve como bússola ao viajante desprevenido, mas de um aviso sobre os territórios em que pisará e os rituais que terá de cumprir para aproximar-se do mistério que envolve a criação de Anderson Fonseca.







À novela Notas de Pensamentos Incomuns, eu não posso acrescentar mais do que já o fiz, quando situei a estratégia narrativa em meu artigo Uma Epopéia do Delírio, divulgado à exaustão pelo autor, junto a outros dois textos que encetam uma tríade crítica a respeito da conjuntura sui generis do narrador ao longo do pequeno livro, alentado de idéias acerca do duplo, um obsediante expediente que persegue o escritor em seu trabalho.









A obra traz procedimentos da Belle Époque e as necroses derivativas de suas abordagens, tendo, como exemplo, O Bebê de Tarlatana Rosa, de João do Rio. Ou incitando outra leitura, tendo como modus operandis os parâmetros da literatura gótica. Nesta investigação podemos tornar Notas de Pensamentos Incomuns, em leitura comparativa, sempre sobre o índice do Outro, com Horla, do autor francês Guy de Maupassant.







Os monstros que povoam os sonhos do narrador – tamagotchis e afins – acentuam o lado obscuro de uma modernidade que atualiza seus mitos sobre homúnculos, procedentes da alquimia; e seres com vida artificial, estes advindos da ficção de terror, atingindo seu ponto máximo em Frankenstein, de Mary Shelley .







Se há outro que sonha por ele – o narrador - a realidade do impossível, repleta de fantasmagorias, nunca saberemos. E ainda mesmo, se esse dado quimérico é a pústula que o inconsciente nos atira para alertar-nos de um cotidiano desumanizante, dilacerador das identidades, isto é também uma interrogação.







Embora avesso às terminologias, realiza potencialmente aquilo almejado pelo escritor. O trabalho suscita em seus avizinhamentos discussões sobre traços de cultura que retornam em obras contemporâneas: a questão identitária em um mundo fragmentado; a alta e a baixa cultura mescladas no texto e outras questões impulsionadoras de novas interpretações. Portanto, ao leitor que puder, agarre-se a uma delas e prossiga feliz a leitura dessas inquietações metafísicas presentes no livro.

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