O calor das ruas estava insuportável. O bairro de Botafogo asfixiado pelo trânsito e sirenes, os prédios esgueirando-se para chegar ao céu como a Torre bíblica, e, nas janelas a existência congelada de uma parcela da população aposentada, desempregada, ou, simplesmente de homens que apenas observam a paisagem móvel e multicolorida, instantânea das multidões. A multidão, este monstro, arrastando-se pelas ruas, desatinada e intranqüila, desaguando nas portarias dos edifícios, escoando pela abertura dos bares, lojas e shoppings como por um ralo que mais a frente confluísse para uma nova rua e sistematicamente tudo isso voltasse a acontecer. Meu olho fixo no chão, empurra para trás a saudade da minha terra, longe, de infinitos horizontes, onde repousa o homem na sela de seu cavalo, sentindo o vento frio das cordilheiras, acossado pelo sotaque dos vizinhos. Lembranças que carrego comigo dentro dessa metrópole, nessa cápsula que é o meu corpo a me conduzir como um estímulo nervoso pelas célu...
As comunicações dominicais de Alexandre Soares Silva possuem uma leveza ou uma disponibilidade de espírito possível apenas a um sujeito rico retirado do mundanismo paulista ou com uma inequívoca iluminação obtida com iogue em um ashram na terra dos bandeirantes em que feitos assim são comuns a um grupo escolhido. Outro ponto prejudicial às comunicações é a recepção manifestada por uma parcela dos assinantes com a intenção de popularizá-las. Em uma delas, a contraposição do romance realista com o romance de fantasia, uma observação correta sobre a transcendência do último sobre o primeiro pela presença do sobrenatural, é estragada. Alguém disse, em algum lugar, que a literatura d esse tipo é otimista pela presunção de um mundo espiritual, ainda que terrível. A hipótese da riqueza de Alexandre Soares Silva não é absurda. A recorrência ao termo aristocracia em suas entrevistas reunida a gola rolê - prefiro a denominação chique turtleneck - peça presente no vestuário masculino europeu ...
O redemoinho subia, levantando do chão: poeira, folhas e restos de papéis. Chegava à altura de uma pessoa que tivesse seus um metro e setenta, percorria o caminho do jardim como se caminhasse para se aquietar junto do tronco grosso de uma jaqueira frondosa, perto de um banco decorado com caquinhos de azulejos coloridos. Era como se sentasse à sombra da árvore, descansando do percurso. Logo desaparecia, levando consigo as impressões do ambiente, para ressurgir no dia seguinte com o mesmo comportamento. - Jorge é você – Zélia sussurrava. A copa das árvores se mexia. - Jorge não fique de brincadeiras – ralhava ela – apareça! Os meninos estão dormindo. Pedia Zélia. - Sabe o que eu soube? Vou lhe dar a notícia em primeira mão: eu também estou indo. E quero segurar em suas mãos para fazer a travessia. Vê pára quieto e me escuta seu pé de vento danado. Zélia notou o redemoinho parar. As flores recendiam um cheiro adocicado. Então, detrás da jaqueira, saí Jorge como se estivesse ali o tempo to...
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nada peço, a não ser o esquecimento dos erros de ambas as partes. Se desejar, passe-me seu email.
Até, Luciano