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Mostrando postagens de setembro, 2011

Exercício - Etnografia Ficcional

I É sexta-feira. Dois jovens cumprimentam-se com uma saudação típica para suas idades. Regulam entre dezesseis e dezessete anos. Vestem calça jeans, tênis da moda, cabelo com corte moicano [corte de cabelo indígena americano e de povos de origem celta. Utilizado durante o movimento Punk, fim da década de 70] , imitando o ídolo do futebol Neymar, jogador do time do Santos. Acompanho o mais velho que trata logo de me apresentar ao seu amigo mais novo; afastam-se, precisam decidir o que fazer com a minha companhia, o mais novo parece não confiar em mim e demoram em cochichos por uns cinco minutos. Ambos os jovens vem de família constituída tradicionalmente, não são filhos de pais separados, possuem boa cultura média no que diz respeito à faixa etária e se expressam com um vocabulário razoável. O julgamento termina e logo estamos a caminho do lugar em que me prometeram levar. O rapaz de dezesseis anos, que passaremos a chamar de Marcelo, toma a iniciativa de puxar conversa. Explico qu

Vida Cachorra no Desconcertos, de Claudinei Vieira

‘vida cachorra’, de mariel reis, entre o distanciamento e a identificação. Posted by Claudinei Vieira Literatura não é reprodução da realidade (assim como nenhuma arte). É um reflexo, um comentário, uma postura, um ponto de vista do autor para o que lhe acontece ao redor. Nem mesmo uma pretensa literatura ‘realista’ pode fazer uma transposição direta da vida para as páginas: há sempre, e em primeira e última instâncias, a mediação do autor. Os contos de Mariel Reis traduzem o ofício do escritor de forma exemplar: ao primeiro momento, nos deparamos com temas, histórias, personagens e ambientações, plenamente reconhecíveis e identificáveis pelo nosso próprio cotidiano, de nossas próprias andanças e conhecimentos, amizades e compadrios, brigas e discussões, amores feitos e outros perdidos. Há, portanto, neste instante, um movimento de identificações mútuas e correlacionadas, somos como estes personagens, passamos por estas situações, bebemos das mesmas garrafas, sofremos dor

Gabriel Garcia Marquez - Contos

Em uma conversa rápida sobre autores latino-americanos, meu interlocutor me interpela do seguinte modo: - São inúmeros textos que você deve ter lido de autores como Onetti, Vargas Llosa, Borges, Bioy Casares, Roberto Arlt e Gabriel Garcia Marquez. Contudo, a minha questão recai sobre esse último autor, o Gabo, quais contos, porque em conversa com sua esposa soube que você relê constantemente dois contos do criador de Cem Anos de Solidão, quais são e as quais livros pertencem? Depois do cara me fazer parecer um expert só porque li uma ou outra coisa, dei a resposta atravessado - A Mulher que Chegava às Seis, do livro Olhos de Cão Azul e Só Vim Telefonar, Doze Contos Peregrinos. Dei a conversa por encerrada. Um autor menor como eu não deve discutir suas preferências sobre os deuses com qualquer um, porque desse modo é violar a minha oração.

Rubem Mauro Machado Sobre Vida Cachorra

"Caro Mariel Terminei a leitura de seu livro. Gostei nele de muitas coisas, não gostei de outras, o que é natural. Não sou crítico nem professor; mas já que pediu minha opinião, vou retribuir sua confiança sendo absolutamente sincero; a melhor maneira, acredito, de modestamente contribuir para a sua escrita. Começo pelo que não gostei. Essa suposta ousadia formal de não usar maiúsculas me parece uma coisa gratuita e postiça. No que melhora o seu texto? A meu ver em nada; pelo contrário, só dificulta a leitura, a torna um tanto confusa. Além do mais, não passa de modismo, uma coisa já feita anteriormente. Não sou contra inovações formais, tenho até um conto com elementos concretistas; mas elas têm de ser funcionais, uma exigência do que se quer contar. Outra coisa complicada é o que parece ser sua exagerada devoção a Dalton Trevisan, que no conto em que você remete a ele chega a converter-se em pastiche. Dalton é um grande contista porque criou um mundo próprio e uma lingu

O Cabelo

Me desculpe pelo escândalo do cabelo. Voltemos a cozinhar em casa.

Iconoclastia suburbana - REsenha Sobre Vida Cachorra

"Grande Mariel, finalmente li Vida Cachorra e escrevi a resenha . Como escrevi foi mais uma vez um imenso prazer ler seus contos. Nesse livro você mostrou uma técnica narrativa apuradíssima, mostrou ser um contista de "mão cheia. Como eu ainda não recuperei minha senha do blog, não posso publicar o texto, então envio pra você publicar no seu blog. Ok? Qualquer dúvida escreva. Um grande abraço e nos falamos. Daniel Osiecki" Iconoclastia suburbana Por Daniel Osiecki Há três anos devorei um livro de contos intitulado John Fante trabalha no Esquimó, do então desconhecido (pelo menos pra mim) Mariel Reis. Logo nos primeiros textos já tive a impressão de estar lendo um discípulo do mestre (e meu conterrâneo) Dalton Trevisan. Quando Mariel me enviou Vida Cachorra confesso que fiquei apreensivo. Pensei: e se o excelente autor ficou só no primeiro livro? Ledo engano. Já no início me deparo com absolvição , conto de tirar o fôlego que nos introduz a um univer

LEIA: RESENHA N' O BULE - VIDA CACHORRA

Leia : Resenha n' OBule http://www.o-bule.com/2011/09/uma-narrativa-feita-estocadas.html Uma narrativa feita a estocadas Vida Cachorra (contos) Autor : Mariel Reis 77 páginas Usina de Letras Por Geraldo Lima A literatura, quanto mais faca de gume afiado, mais penetra fundo os desvãos da mente. Nesse caso, nos desloca, nos tira do eixo de comodismo, de alienação, de satisfação garantida, e nos obriga a reorientar nossos sentidos. Essa é a literatura que faz com que o ser ultrapasse os limites impostos pelas convenções sociais e desfralde a bandeira da liberdade. É ela que expõe tanto as gangrenas da alma quanto as mazelas sociais. É movimento de dentro pra fora, e vice-versa. É choque. É desconforto. É clarão que ilumina e cega ao mesmo tempo. É nesse patamar de potencialidade literária que se situa a narrativa de Mariel Reis. Refiro-me ao seu Vida cachorra , livro de contos publicado pela Usina das Letras, em 2010. O volume é composto de 12 contos relativamente c