05 Novos Poemas
Lição de Poesia
A sombra de árvores
De folhas largas:
É mais quente.
A sombra de árvores
De folhas pequenas:
É mais fresca:
O espaço entre elas
Permite uma maior
Passagem de ar
...
E de silêncio
Confidência
Para o Pato
Murmurava à pedra
Com lábios tão próximos
Que fazia ciúmes
À sua própria esposa.
Orelhas invisíveis
Acatavam a sua prece?
O que lhe soprava o vento
Em movimento incessante?
Trazia de volta à sua confidência?
Por que se mantinha indiferente
À sua frente a amante?
A sua esposa não cuida das palavras
Desperdiçadas por tanto tempo
Nesse diálogo inútil;
Exige, apenas, o desatamento
Do silêncio a que está condenado
Os seus lábios colados à pedra.
A Flor
Para o Pato
A boca, uma flor violeta
Aberta em meio ao rosto,
Os olhos perdidos no azul
Como se fitassem no céu
Alguma ave à espreita.
As mãos unidas em concha
Sobre o peito, repletas de rubis,
Transbordavam como cascata
Pelas frestas dos seus dedos
E as suas sardas como rochedos
Lutavam para deter o avanço do frio.
O sol se retirara mais cedo
De sua face e seu fulgor desaparecia
Dos gestos acolhedores e seu riso
Extinguia-se como se a chuva
Muda escorresse das canaletas
E sobre todos os seus membros
Pousasse uma esteira de silêncio
E o verso morresse amordaçado.
Tinha o céu transportado para a poça
Ao lado de sua cabeça pendida
Percebia alguma poesia na luz
Que se transferia do horizonte
Para os seus ouvidos como melodia.
E a ave, curiosa, pousada ao seu lado
Com a face à sua superposta
Parecia-lhe captar a alma
E ao céu conduzi-la:
É apenas um artifício de poesia?
O pássaro voou sem deixar resposta. A Flor
Observação
A cuia de arroz sobre a bancada.
Dois ou três bilhetes rabiscados:
O primeiro é ao vento com pés
Tão delicados que não afundam
Sobre a coberta esticada da cama;
O segundo é ao calor de mãos cálidas
Tão tênue quanto o vapor da chaleira
Com água em efervescência para o chá;
E o terceiro é à voz de corpo rarefeito
Tão diáfano quanto a neblina suspensa
Sobre o topo da montanha feito um chapéu.
Eles nada dizem de especial sobre nada
É apenas um bom exercício para as mãos
Manterem-se ocupadas enquanto a mente
Penetra à natureza em seus desvãos.
Equívoco
Uma jovem lhe escreveu um bilhete
E o embebeu em uma fragrância
Tão doce que a julgou perfeita
Para o casamento.
Respondeu ao bilhete
Com grande entusiasmo
E a advertiu de que a sua casa
Seria a mais bonita e iluminada.
Preparou tudo em sua aldeia
Ornou a casa com flores e lanternas
E se postou sentado à varanda
À espera da chegada da jovem.
Embora o leitor julgue
Que ele espera a morte,
Está totalmente enganado
Foi apenas vítima de um trote.
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