Alô, Alô, Odile Eugênia! Aquele Abraço!

Amiga/Irmã... Que saudade...

Neste tempo de ausência de contato cansei de dar google em Odile Eugênia e só achar a reclassificação da UFF. Por isso pedi para Mariel postar este nosso e-mail nos blogs dele: cativeiro amoroso - sobre todas as coisas - e o nova arqueologia urbana (sobre as pessoas e sua relação com o espaço em que circulam ou habitam). Tentei seu contato várias vezes, e parecia que vc só existia como fruto da minha mente. Fora a UFF, nenhum outro rastro no Cyber espaço. A partir de agora tudo vai ser diferente: haverá Odile Eugênia na internet, não só a caloura, mas o ser que interage(ia) com outros da mesma espécie fora do campo acadêmico RSRSRS.

Agora eu que pergunto: como vão as minhas sobrinhas?

A sua me traz alegria encantamento cansaço felicidade indignação risos lágrimas preocupação incertezas delícias stress paz... Tudo ao mesmo tempo!!!

Espiritualmente, ela me deu a certeza da reencarnação, teoria muito próxima a mim desde que observava Wallace do alto dos seus 4-5 anos com sua fixação em desenhar fábricas. Belle eventualmente tem flashes de memória e algumas atitudes involuntárias, isso desde os 2-3 anos. Percebo que à medida em que ela cresce, os flashes vão se espaçando mais, e creio que com o passar do tempo desapareçam. Agora o que ocorre mais são as ações involuntárias, ou determinadas elaborações mentais incomuns para uma menina de 7 anos criada num ambiente tipicamente suburbano. Como questionar Deus, "pq é muito engraçado essa história de criar tudo e sair correndo, deixando a maldade dominar o mundo. Se ele existe, pq se esconde? Está parecendo mais aqueles mitos gregos que a mamãe conta, da época em que os homens não conheciam a ciência dos fenômenos naturais e criavam histórias para explicar tudo."

É a minha garota. Amorosíssima. Sem pressa de deixar de ser criança, mas com pressa de crescer (tem 1m30). Inimiga da matemática ou de qualquer outra coisa que precise ficar com o rabo colado na cadeira por muito tempo para aprender. Apaixonada pelas ciências de seu livrinho escolar (os bichos e suas classificações, o Sol e os movimentos da Terra). A que ama ir para a escola, a ponto de ficar impaciente nas férias - só não gosta de ter que estudar quando chega lá. A que faz piada a toda hora e fora de hora, como escrever "banana" na lacuna da matéria na prova de matemática.

Estamos juntos, felizes e morando em Bonsuça. Sempre à procura do Catete, do Lg do Machado ou de Santa para tocar melhor a vida. Mariel trabalhando muito, na casa de leilões e na literatura. Está presente na coletânea dos 50 anos de Renato Russo, da editora Record. Ano passado lançou um livro de poesias e agora estamos revisando um sólo, de contos. O terceiro da carreira.

Eu, cá na Petrobras Transportes combato o assédio moral (o qual fui vítima grávida e também um pouco antes de vir para cá) trabalhando na área de pesquisa de ambiência, gerando relatórios analíticos. Estou tentando entrar na UERJ, Pedagogia, para auxiliar Isabelle em seus problemas de aprendizado. Mas ainda não fiz nem o vestibular. Será dia 19, mas a relação candidato/vaga é alta e eu não estudei nadinha. São 10 anos longe dos livros, e não estou encaixada em nenhuma das cotas, de modo que passar é praticamente um milagre. São raros mas acontecem. Pode ser meu dia de sorte, quem sabe? O negócio é tentar, e de qualquer modo já estou inscrita num pré vestibular intensivo que inicia em julho. Se não for em 2010, chego mais opreparada em 2011 - se Deus quiser. É muita coisa para dizer, é muito tempo de silêncio para remediar.

Quero saber de ti, o que tem feito, como anda a vida, quantos sobrinhos seus eu tenho, como vai wallace, a tia Emília e o Seu Wanderley. Se quiser me escrever o e-mail é esse. Se quiser me telefonar, tem o Tim 21-8100 - XXXX, o telefone da casa de mamãe 21-2564- XXX (estou lá de terça a quinta á partir das 21;30h e sábados e domingos à partir das 12 h. O do trabalho é 21 – 3211- XXX.

Ou eu posso te telefonar, basta que me dê abertura e me repasse o número.

Bjs, fica com Deus. Lembrança a todos.

Lembre sempre que eu te amo muito, e nunca deixei de pensar em você como a minha mais querida irmã, e na Ester como a minha mais amada sobrinha.

Daqui para a frente, a parte que estará nos blogs para a eternidade:
____________________________________________________________________________

É muita coisa para dizer, é muito tempo de silêncio para remediar.

Nesta quinta vi a placa diante do prédio; vende-se cobertura. DDD 22.

Tremi de emoção. Era o telefone esperado? Pode ser de imobiliária em outra cidade. Pode ser que não.

Anotei, pensei em ligar. Seria bem vinda?

Poderia fazer uma proposta.

Hesitei, e muito me doía a idéia de que os laços com aquele pedaço de terra seriam desfeitos em definitivo. Significaria o fim da esperança de esbarrar com essas pessoas queridas perambulando pelas ruas do bairro, um dia desses.


Quando quase decidida a ligar e negociar, alentada por um espaço exclusivo para o marido escritor dar assa aos seus contos, me bate na cara o chamado da realidade. Estava numa banca de jornal no largo das 5 bocas, acompanhada pela florzinha mais florzinha do meu mundo - e devoradora de livros, revistas e afins. Civilizadamente, a florzinha se encantava com um exemplar da Disney, e folheava, enquanto a mãe castradora e intolerante dizia para aguardar o dia 10, o bendito das notas que entram na conta, visto que era fim de mês e a dureza batia à nossa porta, e os 10 reais fariam falta. E a dona da banca, grosseira e insandecida, começou a gritar que era proibido folhear, pq se não vendesse quem pagava era ela, e ela estava ali para ganhar dinheiro, e não para ter prejuízo.

Tem horas em que os brios de mãe se misturam com os brios capricornianos. E com os brios de cidadania e civilidade, absorvidos no paraíso de Santa Teresa, local abençoado do Rio de Janeiro onde respeito é a palavra chave nas relações entre as pessoas locais ou estrangeiras. Enquanto a mulher gritava insandecida, eu ia lhe dando o dinheiro para pagar a revista (o dinheiro que eu não planejava gastar ali naquele lugar e hora com algo que poderia esperar por uma semana mais confortável, a próxima). E a pequena, sem a malícia que o crescimento nos traz, continuava a escolher outras revistas, as de 1 real, de pintura - agora auxiliada pela amável vendedora, adoçada pela nota de 20 e o troco de 10 que tinha acabado de dar.

Fui severa com a pequena:

- Belle, você não ouviu o que a moça disse? Não pode folhear as revistas. Aqui não pode ver antes de escolher, então você não mexe mais, ok?

E a vendedora, no maior relax;

- Não, mãe... Que é isso??? Deixa a menina escolher... Estas são tão baratinhas, dá para levar um montão... eu não me incomodo não...

Saí sem dizer mais nada, arrastando a pequerrucha. Do lado de fora expliquei:


- Filha, a vendedora não gosta que mexa. Não quero que você entre mais nessa banca, ouviu? Nem comigo, nem com o vô, nem com a vó, nem com o pai e nem com ninguém. Quando for para comprar, a gente vai para outro lugar onde possa escolher, tá?

Atravessamos a rua, rumo à calçada onde tem o sinal de trânsito. Imediatamente fechou, um ônibus parou e lá fomos nós. A mãe e a criança, sempre em linha reta, resguardadas pela luz vermelha. Ao lado do ônibus que estava parado graças ao santo sinal vermelho, um carro de passeio em alta velocidade passa a meio metro de nós. Zunindo.

Reclamo, apontando o sinal, e recebo o dedo médio do motorista como um pedido de desculpas. Às duas da tarde.

Assim acordei do devaneio, ainda que sinta muito e me doa o fato de sua família cortar definitivamente os laços com um local que até então me nutria a ilusão de termos eu e você em comum. Não quero passar a vida inteira imersa na falta de civilidade, não quero criar a minha filha num local em que a falta de respeito entre as pessoas passou ao lugar comum e já nem mais é notada. Não, não quero passar a minha vida inteira pagando para isso. A cobertura, famosa cobertura, é o único lugar de Olaria pelo qual nutro um carinho especial, porquê foi o único lugar do bairro onde vivi momentos felizes. Brincando, estudando e conversando com você. Tendo o frescor de participar da infância de Wallace. Um lugar em que eu via uma mãe amorosa e sensível, e aprendi que isso existia. E que a vida podia sim ser diferente e melhor.

Mas não, não poderia fazer uma proposta que coubesse no que a caixa econômica pode me disponibilizar para pagar pelos próximos 20 ou 30 anos, se o oásis de paz fica em meio ao deserto desumanizador em que o subúrbio se converteu. Ou teria sempre sido assim, e só agora, após um período no paraíso, é que meus olhos começaram a se aperceber de mais esta dor?

Não com o custo do meu tempo, meu 53 ou 63 anos, coexistindo com o que não edifica. Não.


Descartada a nostalgia, restava o número. Ligar ou não ligar, that's the question...

Vi no seu recado do Orkut uma abertura. Estou disposta a tentar.

Agora só falta a coragem .
Autora da postagem acima: Aurea Beart

Comentários

Anônimo disse…
Uma vez procurava algo sobre Sartre e encontrei Simone de Beauvoir. Hoje abri seu blogue e encontro Aurea Beart. Que surpresa!
Diego
Anônimo disse…
Nome: maíra barbosa

E-mail: mairabarbosa43@yahoo.com.br

Cidade: leme do prado

Estado: MG

Mensagem: Tenho 18 anos, sou estudante de Ciências Econômicas, apaixonada por ciência, história, direito, literatura, computação, economia e tecnologia. Eu gostaria de epedir que me enviassem títulos concedidos como cortesia, gosto muito de ler e ficaria muito agradecida se me ajudarem. Meu endereço: Nome: Maíra Barbosa Rua Rafael de Souza, Acauã, Leme do Prado-MG Cep 39655-000

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