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Mostrando postagens de janeiro, 2016

Uma História - rascunho

Os cartazes fixados no DPO são fotocópias ruins; pretendem, através de números telefônicos e endereços eletrônicos, coletar informações sobre os inúmeros desaparecidos da constelação do mural. A maior parte dos dados revela enfermidade, mas, se observados os cartazes, os outros apenas diluíram-se na multidão da cidade, embora portadores de registros de identidade e cadastros de pessoa física. E nunca mais fizeram contato com a família. O táxi aproxima-se; não temos, em termos exatos, nesse final de ano, o número de pessoas que saíram de casa e não retornaram a ela. O taxista, após nosso embarque, interessado, ouve o relato de que muitos desaparecidos - excetuando-se mortos e deficientes mentais - trocam de identidade, constituem nova vida e nunca mais se voltam para a existência abandonada. O taxista surpreende com um relato radical: após a morte materna cortou os laços familiares, mesmo com o restante dos parentes vivos, optou por adotar um anonimato incomum: sem filhos, ...

Observações sobre Carta ao Pai

“A liberdade para alguns indivíduos parece um erro da natureza. Precisam corrigi-lo pelo temor de agirem por si mesmos”. I. Kafka é uma criatura despótica. Entretanto, toda sua violência no livro mencionado soa afetiva – parece isto ao leitor ingênuo cuja redução à vítima do redator é a perspectiva adotada. A tirania do afeto em Kafka perpetua-se até hoje porque sua peça literária, com centenas de edições ao redor do mundo, serve com eficácia ao seqüestro da figura paterna.  Ele, o livro, está aqui na minha frente – feérico – e com um partido a ser tomado: o do jovem violado em sua sensibilidade. II. Carta ao Pai, embora um documento unilateral, quando relido, parecemos ouvir subjacente às suas linhas as reprimendas do pai de Kafka. E na maior parte das vezes, na leitura dos contos desse mesmo autor, a autocomiseração kafkiana invade negativamente a construção da identidade paterna. Sabemos que nenhuma relação íntima é pacífica, mas Kafka parece desejar o...