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Mostrando postagens de outubro, 2015

Fernando Pessoa não era maçom

Na coleção de livros portuguesa A minha vida deu um livro, o título Fernando Pessoa, ensaio interpretativo de sua vida e da sua obra, de João Gaspar Simões - o primeiro biógrafo do poeta de Mensagem -, insinua, em três capítulos do livro, a relação do poeta com a Maçonaria. As expressões que levam ao crítico e biógrafo à conclusão da interação de Pessoa com a ética maçônica são, respectivamente:   Grande Arquiteto do Universo e Templo de Salomão – difundidas em qualquer tempo como sinônimos da Ordem. Além de algumas peças literárias em que, com muita propriedade, o poeta acercou-se do assunto, convencendo aos seus leitores de que era ligado à confraria. No entanto, durante o período salazarista, em que as perseguições recrudesciam às sociedades secretas, Fernando Pessoa escreveu inúmeros artigos cujo posicionamento contrário ao governamental era flagrante. Em artigo Associações Secretas, veiculado no Diário de Lisboa, em 04 de Fevereiro de 1935, esclarece de uma vez sobre estar ou nã

Dez pequenos poemas de Mariel Reis

I Meu corpo dividido Em partículas, Pelo teu sopro. II Entre os dedos Leve névoa, Colhida do acaso. III Acrescida à pele Nova extensão: Amor siamês. IV Marcham no sangue Em minúsculas frotas, Naves de mortos. V Afogados meus mortos Sobem à tona, Forcejam corpos.     VI   Servos da morte Nas raias sanguíneas, Gigóias letais. VII Misturadas à linfa As águas-vivas Nadam no tubo. VIII Bolsa de sangue A vela encarnada, Um barco: leito. IX Inapto à multidão Sigo as linhas, Sem ponto final. X A mão nervosa Esvoaça nas pernas, Pomba aflita.

Oito pequenos poemas de Mariel Reis

I Estendida na rede Lençol de sombras: Relevo vivo. II Sobre a almofada Transidas as pernas: Reféns do êxtase. III Assalta a sílaba Em minha língua, Eterno fruto. III Carne da casa Em minha língua, Sumo impar sorvido. IV Dedos nos lábios Sentido horário, Flora ardente. V Pele escrita Folha sensual, Nervuras do desejo. VI A rama do cabelo Desceu raízes Ao rio: salgueiro. VII Na polpa da mão Risco de unha, Língua entre os lábios. VIII Cidades atravessam Todo meu corpo, Lascivo horto.

Onze Poemas de Mariel Reis

I Colméia: rito De amor proibido, Alvéolo de mel. II Diálogo só Entre o vão das pernas: Eco da boca. III Poema Árdua fuga Do inútil trabalho, Fruta estéril. IV Como uma santa Do alto de um nicho, Dê-me abrigo. V Estação:  pelos Campo crespo aceso, Fogo dos dedos. VI Ondina salte Meu corpo irregular, Espuma viril. VII Dois pés sobre mim Umedecida relva, No jardim, chuva. VIII Dedos nos lábios Sentido horário, Flora ardente. IX Fenda do corpo Recoberta de hera: Pouso do gozo. X Silhueta líquida: Corre na folha Dupla da calha. XI Alagadiço canto Dobradiça voz, Cedido pasmo.

Agenda

Inventar a agenda Em que o coração - Corola do dia -exceda.

Passagem

A tua passagem É a interdição -, Dos meus sentidos.

Fogo

Costuras do corpo Impressão na pele, Tatuagem a fogo.

Nudez

Solidão da árvore - Perda das folhas-, Uma via da nudez.

AMOR

Você superou  Os desenhos infantis Dos meus sonhos.

Alienígenas

Os relatos sobre alienígenas, repletos de fantasia, tributários de um antropomorfismo na descrição do aspecto dos seres extraterrestres, não permitem muita credibilidade. A transposição de nossas características à uma caravana sideral compromete a experiência descrita e o desequilíbrio dos narradores – com graves complexos de personalidade - reforça a descrença. No entanto, em contradição com a gama de relatos sobre a malta intergaláctica – seres pervertidos e saqueadores de material genético –, há a presença de implantes encontrados em muitos dos que se dizem abduzidos. A presença do implante – uma prova material – pode significar, além das fantasias em torno do assunto, o contato real com outras civilizações, agora interplanetárias.  Não me referirei aos complexos militares dos países, cada qual com uma história de avistamento para ser narrada, com pequenas variações entre elas, sugerindo a interceptação, a captura e o cativeiro das criaturas do Cosmo. Preferirei me referir aos impl

02 novos poemas de Mariel Reis

I Congestionado O coração está Repleto de pássaros. II Trocaram por lira A minha alminha, Sempre dedilhada.

Beijo

Em vez do beijo Tomou a voz Da minha boca: A tua língua Falou por mim.

Para Cacaso

Não desvia do assunto. Quando estamos juntos Nem o capeta aguenta… Mas é o seguinte: — Não acredita em tudo! Sou um sujeito muito poeta.

A Tua Flor

Entre os dedos - Da rara flor viscosa -, Luminescências.

Foto fatal

Pela manhã, num café no Alto da Boa Vista, após uma caminhada na floresta, sou avistado. Embora minha memória não tenha sido afetada é bastante difícil reter na lembrança todo o vivido. Ela acenou, pediu licença e se identificou. Lentamente a minha recordação voltou. Sempre cultivei – em todos os períodos de minha vida – poucas amizades. Preservo minha intimidade ao máximo. E só quando uma ligação real surge, ocorre a mudança em que já permito alteração de cláusula. Nesse período, estudávamos para o vestibular. Ela me parecia agradável e interessada. Os sinais contrários eram muitos, embora não entendia como podia ignorá-los. Alguns meses depois – cinco – , após as aulas de Química, uma matéria na qual tinha especial talento, ela pediu que minha explanação se interrompesse e disse que não aguentava mais. Ou eu era cego? A mãe dela se surpreendeu, levantei-me e sai. Nunca mais voltei à casa, nem à pessoa. Ela sorriu e me mostrou um jornal com uma entrevista minha antiga. Desculpou-se

Conversão

19 h 33 min Depois de uma ligação ao meu irmão, desisto de visitá-lo. A volta por São João de Meriti revela-me Reginaldo, quitandeiro, antigo morador da rua Polo, irmão de Robinho. Antes dele, porém, um outro, de voz pastosa, olhos injetados, me cumprimenta com mão mole. A lembrança, em um vacilo, custa-me a devolver aquele rosto, perdido entre inúmeros outros, em minha juventude. Notadamente, no intervalo entre seu reconhecimento e a pronúncia de seu nome, debato-me contra o fato de vê-lo bêbado contraposto ao do rapaz atilado e namorador do colégio. Ele quer se ligar a mim, estabelecer uma conexão – mesmo mínima – entre nós. E somente a tragédia, ele deve ter suspeitado, poderia causar nossa (re)união. Ele – que sabia de minha família numerosa –lamenta a morte de um de meus irmãos. Apresenta sua solidariedade, quer saber se é verdade o falecimento. Acrescento que não apenas é verdade, mas que havia perdido um outro irmão em um curto espaço de tempo. A revelação lhe pareceu demasiada

Dois Poemas de Mariel Reis

I Mira a nudez Ponto infinito: O umbigo e ao redor. II Riscam as pernas – Meridianos? –, Anéis de um astro.

Minha recente poesia vista por André Ferraz

Natureza Morta em Versos André Ferraz Há no que diz respeito à poesia de Mariel Reis, no campo imagético de seus novos poemas, a presença um tanto singular das pinturas chamadas de naturezas mortas. Em seu conteúdo, apesar de engenhoso, transparece as características de uma infusão de metáforas referentes a objetos e aspectos contidos em membros vegetais. É inventivo, em falar de forma impessoal, sem um envolvimento apaixonado na admiração dos versos. Mariel já vinha criando um estilo próximo desses mesmos poemas no seu primeiro livro de poesia denominado “Cosmorama”. Mas o fôlego não cessou por a í . Continuou a investir critérios de personificação e símile nos poemas que adivinham de sua escrita. Temos: “ A copa da árvore Acesa em sons Desperta a manhã.” ou “ Sobe perfume Do fruto aberto A língua quer redimi-lo.” Tanto em um quanto no outro poema existem sinais que misturam imagens não só vistas pelo ângulo do expectador quanto do experimenta

Dia das Crianças

O jornal Opção estampa escritores escrevendo contos com seus filhos. Nele estão  Alessandro Garcia e João . É uma felicidade. Lembro-me de nosso almoço na Mercearia, em São Paulo. E a fotografia do petiz em meu colo. Em conversa com Camila Constantino revelo minha vontade em trafegar pelo shopping em motos de pelúcia alugadas às crianças para um curto trajeto. E pergunto a ela o que gostaria de ganhar no Dia das Crianças. Talvez pelo horário, duas da matina, ela o confunda com o Natal, porque diz que é uma menina que não merece presentes. Acompanho o blogue de Anderson Fonseca sobre o desenvolvimento de Ana . Misturados ali afeto e curiosidade científica - ambos prosseguem confundidos em amor. Estou no metrô com minha filha. Vejo sua beleza e juventude. Ainda aos doze anos. E olho a nesga de céu insinuada entre os prédios. Dizem que entre as nuvens está um lugar em que Deus tudo observa. Investigo para flagrá-lo antes que seu Olhar me fulmine. E o instante em que acari

Poema de Mariel Reis

Sempre reparo a felicidade dos objetos. Repousam em locais inusitados e desejados: O celular nas almofadas dos seios, — , um confidente dos anseios. E no bolso da calça, vira um petiz que toma nova lição geográfica. Outro dia vi um pincel como prendedor de cabelos, indaguei. — É para colorir os sonhos. A moça se riu. Os homens já são felizes quando em aconchego encontram um coração — o que é raro. Na verdade, os objetos são xeiques. Alguns são sultões: — possuem um harém numa única mulher.

05 pequenos poemas

1. Sexo inflado Balão de gás, Em sua mão. 2. Frio O tufo de pelos Arrepiados: Abrigo do quarto. 3. Subiu à boca A imprecação: O coração cheio. 4. Desceu à ira Ardeu a chama O corpo na pira. 5. Saíam chispas Dos olhos, Pratos do ódio.

Autorretrato automotivo

Charmoso e confortável, chassi reforçado, carroceria quase brilhante (ainda me restam cabelos), designer retrô – anos 70 – pode ser apreciado por quem tenha bom gosto e sofisticação. Percebe-se a integração entre o clássico e o popular. É modelo adequado à família e serve também aos jovens ousados. Rodagem expressiva, mas sem grandes problemas mecânicos, faz com pouco combustível (feijão, alface e carne) distâncias consideráveis. O modelo caiu no gosto popular, difundindo-se durante a década de noventa, quando suas linhas – entre rústicas e arrojadas – ganharam as páginas dos jornais e das revistas. Mariel Reis, requinte e bom gosto fundidos à popularidade e ao humor, compre. Corra à concessionária (livraria) mais próxima. 

02 poemas de Mariel Reis

I Entre dois amores E um hábito: O frescor do teu hálito. II Meu coração é um frei: Em total contrição Desobedece a lei.

Links Importantes: leia e reflita

http://www.infomoney.com.br/blogs/economia-e-politica-direto-ao-ponto/post/4249906/fascismo-nao-direita-entenda http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/afinal-o-que-raios-e-fascismo-6o0txefvgp2mm45mbu2awstnq http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/o-antifascismo-e-fascista-20mnuxy5awqzr6lyzqy4sqwjy

A Trindade Desfalcada

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  Para Diego Mendonça  Camilo Cienfuegos desapareceu misteriosamente em um acidente aéreo. A aeronave que tripulava apresentava problemas mecânicos alerta feito pelo periciador dela.  A outra aeronave, que acompanhava a de Camilo, cujo piloto era um estrangeiro, não desapareceu, mas o seu condutor nunca mais foi visto. E o pescador que testemunhara o acidente foi interrogado e nunca mais se ouviu falar dele.  Camilo Cienfuegos, filho de anarquistas espanhóis, acompanhado de Che Guevara, rivalizava em carisma com Fidel Castro.  A vaidade de Castro não permitiria que a tríade dividisse a Ilha devido à popularidade de seus outros dois rivais. Che Guevara foi enviado para a armadilha da guerrilha internacional,  culminando com sua morte na selva boliviana. Camilo, na versão oficial, sofreu acidente aéreo em uma tempestade sobre o mar cubano. Os exilados, ex-companheiros de Fidel na campanha da Revolução Cubana, que tiveram a chance de viver em outro país e ter suas di

Reforma Ministerial

O deslocamento de Aloísio Mercadante da Casa Civil, na recente forma ministerial, para a pasta da Educação, reassumindo-a, depois da destituição de Renato Janine Ribeiro do cargo, é uma estratégia coerente, embora a perda de Janine, talhado para a função, seja um equívoco. O embaralhamento das cartas, orquestrado por Lula, parece realizado para a garantia da governabilidade: a suposta construção da viabilidade do governo Dilma. Ninguém quer sair perdedor em 2018. A rearrumação em que antigos aliados, como o PSB, que com a candidatura de Eduardo Campos (2014) romperam com a base governista, agora tentam ser reconquistados por ela. A coerência de Beto Albuquerque e de seus correlegionários será testada como também a fidelidade aos princípios defendidos, acompanhado de Marina Silva, naquela campanha presidencial. As cortinas de fumaça são muitas. Se a Casa Civil, o epicentro estratégico das negociatas como o mensalão, ocupada sempre por alguém de confiança ligado ao Partido dos

Ação

Papel de embrulho: o cotidiano Realizei, através dos Correios, uma ação ecológica e crítica. Enviei a um grupo de amigos – dez deles – embrulhos feitos com material de revistas e jornais descartados de origens diversas. Seleciono as páginas que servirão ao pacote e o embrulho feito, escrevo por fora dele frases como REVISTA X É BOA PRA EMBRULHO ou quando JORNAL EMBALADO PELA REALIDADE, além outras sentenças com variações que significam exatamente o expresso pela original em relação aos  periódicos . A ação é uma crítica a  mídia cada vez mais parcial e ao não reúso de papel das publicações descartadas no lixo. Terrorismo poético? Happening? Diversão? Conscientização ecológica? Ou tudo isso junto? A primeira impressão a ser publicada será a de Anderson Fonseca, escritor.