Um Caminho do Zen ( poemas) de Mariel Reis
I
Como se alimentar
A não ser pela boca?
Seus olhos, seu nariz,
Seus ouvidos, seus braços,
Suas pernas, não lhe trazem o alimento?
Não é pelos olhos que conhecemos a beleza?
A beleza não é uma instrução?
A paisagem verdejante e tranqüila
Não é o modelo para nosso corpo e nosso espírito?
Não o é a sua fragrância uma suave
Advertência ao nosso corpo e espírito?
Os frutos em suas árvores colhidos
Pelas nossas mãos, levados à boca
Não é um sinal do que devemos ingerir?
O caminho percorrido por nossas pernas
Muitas das vezes solitariamente
Não o é também um vagar em si mesmo?
E vagar em si mesmo não é descobrir-se?
Não é estar ocupado pelo instante?
Alimenta-se o espírito de modos diversos.
Não só pela boca, não só pelos ouvidos,
Não só pelo nariz, não pelos braços,
Não pelas pernas, não só pelos olhos,
Mesmo sem eles recebemos o alimento
De que nosso corpo necessita.
É preciso estar atento.
II
Quando se pratica o amor
O zen lá está nos detalhes.
Observa: o ritual dos braços,
Da boca, da pele e das palavras.
III
Sem o corpo como conhecermo-nos?
Se não tivesses um rosto, qual seria sua face?
E que idéia farias de um braço se não o tivesses visto
Pelo menos alguma vez? E se não tivesses olhos que
Idéia teria das paisagens se te perguntassem?
E se não tivesses ouvidos como poderia saber da música
Dos planetas na imensidão e em nós? Sem eles os pássaros
Não fariam sentido com suas cores e cantos e árvores
Representariam absurdos tão grandes que julgarias estar
Em um mundo desconhecido e bizarro.
IV
Imagina se não tivésseis as notícias
De terras distantes, de homens diferentes
De vós, se não tivésseis nenhum dos sentidos
Que lhe auxiliam e ainda assim vivêsseis
Como todas as coisas sobre a Terra
E quisessem convencer-lhe de que há
Outro lugar entre o Céu e a Terra
E que lá maravilhas semelhantes
Ocorressem não despertarias de seu sono?
Ou apenas afugentarias a ilusão, bastando
A si mesmo como única causa da Realidade?
V
A flor, quieta, medita sobre a sua beleza.
Não sabe quantas estações durará
Não sabe se será ceifada ou o vento lhe
Judiará por estar enamorada do sol
Ou se o Sol ciumento lhe queimará
As pétalas por voltar-se para o lado
Quando sopra a brisa.

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