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Mostrando postagens de março, 2013

Os Cegos de Berliner

Não há esforço interpretativo. Se podemos apontá-lo, ele é inibido pela perigosa cadeia que liga indivíduos que freqüentam as mesmas livrarias, salas de cinema e o mesmo círculo de amigos. E para não ofendê-los com suas opiniões, se possuem alguma, estes localizam sobre a superfície da obra aquilo que lhe é menos característico e individual, investindo todo seu esforço para exaltá-lo como condensador das supostas qualidades do que vêem; e se acompanharmos ponto por ponto o que ali está dito, certificando-nos de checá-lo minuciosamente, tristemente perceberemos que, em se tratando de pintura, solicitamos a cegos suas impressões. Isto, maiormente, se dá na crítica contemporânea e faz com que alguns nomes alcancem renomada reputação: ou por repetirem os releases ou trechos de conversa escutados durante o vernissage ou da própria conversa com o artista; e mesmo por abordarem, ordinariamente, o fenômeno da pintura com simplificações do tipo “é um particular trabalho em que o olhar

Salto

O Salto O atleta em tensão, Dobra o corpo Em arco. Ultrapassa O travessão Com o salto. E abandona No espaço O caule da flor - De ar - De sua impulsão. E cai, devagar, Grave Entre as hastes: Intermediário De homem E De ave.

Marinheiro

Marinheiro Para Antônio Cícero O mar em movimento As palmeiras em arco, O balanço do vento: Ele é o meu barco. Os braços tatuados Caídos ao meu lado, Os olhos languidos Mirando enviesados. Meus braços no ar Remo a ele colado, Músculo contraído: Ele é o meu barco. Mesmo sem o mar Dentro deste quarto, Remamos juntos Para algum lugar: Desta travessia Onde é corrente O amante ser lido De trás para frente.

Dois novos poemas

Anúncio Como fazer o poema encomendado Para a seção feminina da revista, Falando sobre o amor e os cuidados Para não se perdê-lo de vista E como cultivá-lo? Se eu tenho dificuldades Em arranjá-lo em letra de forma, Transformá-lo em letra viva, Em encontrá-lo sob o corpo de outra Criatura que também necessita De tê-lo descrito e domesticado Nas infinitas dicas das colunas Nos livros enfileirados de auto-ajuda Ou por feiticeiras maliciosas Com promessas milagrosas De trazer a pessoa amada em três dias? A Convidada Eis o nosso erro – negar toda conversa Com a morte, isolando-a, num canto da sala, Sem um interlocutor possível; evitando As suas falas, os seus gestos e o seu rosto Horrível como uma convidada indesejável - Que viesse à festa como um penetra.

Poema Português

Poema Português O meu país é um lugar longínquo Talvez tão distante quanto est’outro, Mostrado nas telas dos cinemas Habitado por burros, gatos e ogros. Habitado por burros, a isto nada Pode-se acrescentar, porque nos Roubam tudo o que se pode tirar E forçam-nos a cada vez mais calar. E, decerto, há gatos, larápios natos, Ativos apenas a nos enganar e miar Pelos telhados de nossa província; Bem sabem tirar partido e caçoar Do ogro – ess’Estado famigerado E disforme - tal um leviatã; reza A lenda que ainda dorme e pode Algum dia acordar com sonhos de [decência