Poemas Para Menelau Morto


I
O Cão ronda a tua casa, sentinela da noite.
É o covil das mil injúrias que ele guarda,
A soldadesca de sombras o ampara. Ele vigia:
A inconsútil matéria assomada das frestas
De tuas células, a tua herança exangue, acre,
Maldita, erguida entre assassínios, a desdita
Língua com que puniste a índole dos homens,
Sem piedade ou clemência, sem distingui-los,
É por isto a tua miséria, eis a tua sentinela
Como adorno de teu espírito, esta corrente
Estás enganado, não é ao Cão que ela prende,
Esticada presa ao pescoço da gente.
II
Tu és um assassino, tem as mãos sujas de sangue,
Nada te importaria se retirado, se teus membros
Fossem esquartejados ou tua cabeça rolasse cortada
Pelo frio aço da guilhotina ou tua língua arrancada.
Tu és um forte, embora teu corpo não resista mais
Às rajadas de vento e não te importaria em morrer
Afogado, queimado, assassinado ou levado pelo ar
Feito um pássaro de asas amputadas pelo ciclone
Nada disto te atingiria o espírito, nada disto
Faria com que tivesses piedade de ti mesmo,
Nada disto faria com que pedisses clemência
Porque tua raça é a dos fortes e impiedosos
Tanto melhor para Deus homens desta raça,
Tanto melhor para Ele quando a estraçalha.
III
Tu sabes muito bem que somente os cães, apenas
Eles seguem a tua corja, abrigam-se à tua sombra,
Somente os cães dividem contigo o repasto e olham
Mansos por sobre teus ombros e não enxergam pecado,
Somente eles, os cães, Deus destinou à tua raça
Para farejá-la dentro da perdição e do cansaço,
Apenas eles, os cães, lambem a tua mão de doença
De morte, entram contigo em teu labirinto de breu,
Apenas eles guardam o teu descanso, velam ciosos
Por teu espírito que na imensa noite se perdeu

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