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Mostrando postagens de fevereiro, 2012

Em Uma Tarde de Tantos Desejos...

... Ela vestia nuvens pernas acima. A observação partiu de um rapazote, notando a saia alvíssima da moça à sua frente na célere condução que partia rumo ao centro, levando consigo tanto do imponderável da realidade.

Enjaulado pela linguagem

Escreve-lhe esse animal aborrecido pela linguagem. Enjaulado pelas listras de sol que toldam os edifícios da cidade, ressentindo-se de nossos diálogos, agora restritos, presa de intervalos obrigatórios e de um tempo escasso diante das necessidades de uma existência que não combina bem com o sonho da literatura. Porque o força a tornar-se tão estéril quanto ela que deverá ter seu término na campa, enquanto esse outro se evade para os campos celestes e abriga-se sob as túnicas dos deuses que se ocupam brevemente dele para saber com que deliram os homens. E certos de que não sonhamos as mesmas paisagens, porque a enfeitamos com mais cor e acossa-nos a mortalidade, passam os deuses a sonhar com esses delírios tão voláteis quanto nossa matéria e anseiam ser como nós – fugidios.

Impressões sobre o conto O Olhar da Bissetriz

Meu Caro Irmão Anderson, Embora não seja habitual minha manifestação acerca do que leio através de carta não posso furtar-me da utilização de meio tão arcaico para transmitir as impressões exatas que me sobrepujaram após a leitura de seu trabalho, acertadamente o conto “O Olhar da Bissetriz”. Este de uma execução atilada sob a perspectiva que você resolveu adotar para nortear sua criação do livro homônimo – isto se não encontrou outro nome para batizá-lo, enquanto repousava nesta outra plaga, embalado pelo ciciar dos coqueiros e da melíflua voz de mulher amada – retomo depois de minha divagação, a perspectiva do duplo. É certo que deve ter notado que me faço opinar semelhantemente a natureza formal do conto: uma epístola. Este condicionamento já o posiciona modernamente entre os gêneros caros ao pós-modernismo que se valeu dessas formas para elevá-las em seus status à categoria de alta literatura. O pós-modernismo é um blefe, porque tal procedimento já pode ser detectado em obras de ra

Correspondência Ficcional - Exercício

R., Nossa convivência real estará sempre mais adiantada que a virtual. O motivo é que não passamos tanto tempo de nossas vidas ligadas a internet,o que é um mérito, porque nos dedicamos a outras tarefas. Isso é legal, porque cria outra área de convivência, menos apressada e curta como é a jornada de trabalho. Se você não se referisse ao e-mail – se eu o havia mandado ou não – juro que não me atreveria a lhe perguntar se havia lido. Julguei que a tivesse aborrecido com meu “primeiro contato amistoso”. Afinal, eu estou tantas vezes na sua frente, porque não falar diretamente? O motivo é a concentração em nossas tarefas e a imersão de cada um de nós no que realizamos. Não sei o que é – e nem é oportunismo o que vou declarar – contudo há algo calmo em você que me agrada, algo ordenado e tranquilo, escorrendo suave de suas mãos. Desprendendo-se lento de sua voz e emanando com uma luz que brilha sem violentar o objeto que ilumina. Pode ser apenas aquilo que é em mim ausente o p